10 Jun
10Jun

Tenho tentado escrever um poema sobre nós dois, mas não me fluem as palavras. As frases de amor perderam o sentido e a brisa suave, que outrora nos afagava os sentidos, é hoje vento forte que na tempestade afasta de mim os sonhos. 

Recordo-te com a mágoa de quem perdeu a esperança.  

Não sei onde estás, se lembras que existo, ou se outros braços te enleiam e te afastam de mim o pensamento. 

Lembro da doçura do sorriso que antes transparecia em teu olhar!  

Hoje, percebo em ti apenas o reflexo de uma paisagem agreste, ou de um mar revolto, capaz de todos os naufrágios. 

Não sei porque levaste para longe as palavras ternas, se sem elas não há mais eco nem sussurros, nem o sopro ao ouvido das nossas vontades. E as páginas brancas que antes preenchíamos de sonhos, não passam disso mesmo… páginas brancas e vazias, cheias de nadas. 

As flores que antes nos enfeitavam os dias, murcham agora nas jarras, pois o outono aproxima-se, encurtando as horas, derrubando as folhas das árvores e deixando a nu as artérias da minha cidade. 

A cama onde partilhávamos sonhos, está desfeita e despojada de vida.  

Não sei se vale a pena continuar a escrever este poema, porque se o terminar, partirás para sempre, e se o interromper, ficarás suspenso no universo das expetativas. 

E eu não quero que este seja o nosso último abraço…

Dulci Ferreira, a autora do texto

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