12 Jun
12Jun

Ser ancestral é anteceder algo ou alguém 

É ser antigo, como uma árvore secular 

Como os castelos que nos erigiram 

Como um avô, uma avó, um pai ou uma mãe 

Que já partiram 

Como os soalhos velhos que rangem memórias 

Pedaços de vidas passadas, lendas, histórias 

Horizontes de vivências a recordar. 


É a nostalgia que paira no olhar… 

Um beijo que se deu e esvoaça no ar 

Uma flor que se ofereceu 

E que nunca secou 

Um abraço retido no tempo… 


É a hera que trepa as ruínas das palavras ditas 

No silêncio de quatro paredes 

Onde já não estás. 

São as vozes do canto apagadas 

Nas gargantas que tanto chamaram por nós 

Os nomes trocados, repetidos até lá chegar… 

-Vai à fonte, Maria… oh, Mercedes, Ester, Dulcídia… 

Era assim, com a avó, era assim com a mãe 

E era assim com o pai que me deixou, também. 


Com a derradeira partida 

O colo que me aconchegava emudeceu. 

Ficou o vazio que a saudade preenche 

Os livros, a poesia, o gato e eu.

Dulci Ferreira a autora da poesia

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