Nada de tudo um pouco
Neste mundo louco
Da dor ouve-se um grito rouco
E as mãos fervem de febre
É sem dúvida uma visão dantesca, toldada por nevoeiro cinzento. É tudo muito bonito mas também pode ser feio, muito feio com sabor a fel.
Dos favos de mel devoras doçura
Esqueces os tempos de amargura
Deixa que o dia seja teu amigo
E das trevas se afaste o perigo
Melhorou num passo gigantesco, aflorando a terra de areias molhadas, sob as estrelas das constelações, seguindo então o brilho da Polar.
O amor devora-lhe o peito
Acena com as mãos bem a seu jeito
Tal como rendas de um lenço perfeito
Rostos gravados bordados a preceito
Cruzassem a vida num campo aberto
Apenas por eles lavrada por certo
Na alma de ouro um filão descoberto
Há sempre um carreiro na floresta indicador da passagem de gentes, carregadas com os seus seres, um nada de tudo um pouco, para que das trevas afastem o perigo e as almas sejam auriferas, como se em rendas de um lenço perfeito, guardassem favos de mel e dessem a provar doçuras a este mundo louco.
Maria Dulce Araujo, a autora do poema