Sentadas à beira da estrada, um grupo de mulheres conversava, ainda, com ar de festa, pois na aldeia era dia de alegria e confraternização. De repente, olho para uma senhora que apoiava os anos num pau.
Meu Deus, silenciei eu, é a tia Lurdes! Saio do carro, olhei-a e caminhei na sua direção.
- Olhe bem para mim e diga-me se me conhece, tia Lurdes!...
Tia Lurdes e Celeste Almeida
Bastaram uns breves segundos e...
- Ai, meu Deus, é a senhora professora Celeste! Eu não acredito, minha Nossa Senhora! A senhora professora Celeste de quem eu e todos gostávamos tanto!
- Lembra-se quando eu a ia chamar a correr para vir ao telefone? Lembra-se dos telefonemas que seu irmão lhe fazia de Tendais sempre que passava lá com o camião? A senhora professora chorava de alegria, lembra-se?
- Deus meu, como não hei-de lembrar!
Memórias que guardo do meu querido irmão João que Deus já levou! Não tenho palavras para descrever o que senti neste dia, mas o abraço apertado da tia Lurdes, nunca mais esquecerei! Esse, ficará eternizado no meu sentir.
- Senhora professora, há tempos, disseram-me que a senhora esteve aqui e que perguntou por mim. Não imagina a tristeza que tive por não a ter visto, mas hoje, estou feliz, muito feliz! Fomos sempre tão amigas, nos anos em que aqui deu aulas! Já lá vão tantos anos e tanta coisa triste aconteceu! Perdi meu marido, depois meu filho Dimas...
Eu ia perguntando por outras pessoas e só consegui ver tristeza nas palavras! A Helena que foi minha aluna no 5 e 6 anos, está viúva... a dona Odete está no hospital muito mal... o Pompilio também morreu... luto e mais luto!...
Lágrimas nas rugas da tia Lurdes fizeram um rio que desaguou no meu peito! Lágrimas que em alguns momentos eu serenei com as minhas, tamanha foi a força dos sentimentos que nos enlaçaram! Turbilhão de emoções... Alegria, saudade, tristeza!
Tristeza que só a felicidade do reencontro conseguiu apagar...pelo menos, enquanto nos mantivemos abraçadas!...
São estes abraços dados com a força da alma que eu nunca quererei perder!
São estes abraços que eu tive a felicidade de conhecer o sabor com as pessoas mais generosas da face da Terra!
São estes abraços que me dizem que vale a pena acordar todas as manhãs, porque no mundo há corações tão belos como a lua e tão calorosos como o sol do Universo!
São estes abraços que dividem o mundo em dois mundos!
Celeste Almeida, a autora deste texto.