09 Aug
09Aug

Naquele dia, o rio calou-se! 

As águas fizeram um remoinho e os passarinhos deixaram de cantar! 

Onde estava a alegria daquela mulher que frequentemente se vinha banhar nas águas límpidas do rio e adormecer na cama feita de fentos? O rio tremeu mal a viu de cabelos nos ombros a entrar na água! Nas pedras do leito , sentiu o peso da tristeza segurando o pano das dores e do cansaço! 

Queria falar-lhe, ouvir as palavras do seu silêncio, acariciá-la nas vagas dos seus dedos e fazer uma toalha no seu corpo com os seus abraços! 

Queria, porque o rio conseguia ler o interior da alma que ela tentava esconder no infinito da corrente, apesar do seu eu estar tão distante!

O rio via uma imagem, apenas uma imagem a tentar fugir de um lamento que suspirava nas ervas tenras que, solidárias, se curvavam à sua passagem! A nudez dos ombros deixava ver sua pele de cetim, vestida com muitos vales encaixados na montanha da vida! Pouco a pouco aquela mulher começou a erguer o pescoço, subiu as poldras e atravessou até à outra margem! Estendeu uma toalha de musgo e à sombra de um amieiro deitou-se. 

Uma libelinha azul pousou-lhe na face e abrindo e fechando suas asas de seda beijava-lhe o rosto. 

Aquela mulher chorou. 

A libelinha não conseguiu secar-lhe todas as lágrimas e duas correram para o rio! 

Só nesse instante o rio percebeu que aquela mulher esperava, continuava a esperar por alguém que mais uma vez não chegou! ...

Era urgente, muito urgente, ajudar aquele ser tão frágil que navegava no barco partido do coração!

Tinha que trazer à vida, aquela mulher que deixou de se gostar, de se querer e de se amar! Tudo à sua volta era escuridão e abandoná-la com outro rio dentro dela seria deixá-la afogar nas suas próprias mágoas! Pediu a todas as águas que se juntassem e a fossem buscar e com ela brincassem! Quem sabe aquela mulher corresse atrás da libelinha que pousava em cima das águas e voltasse a sonhar e a acreditar? 

Quem sabe? 

Ela que tanto esperou em vão, que uma palavra, um abraço, um beijo se fizessem mar e maresia dentro dela e, no entanto, permanecia no vazio da solidão! 

Quem sabe, mesmo sabendo que a dor do seu peito era maior que o oceano?!

Sentia um desespero a sufocá-la, um desespero que apenas precisava de um abraço forte que estava prisioneiro no seu mundo, onde já só ela permanecia peregrina! Ela só queria uma fatia de outro tanto tempo, para ter um momento, o momento de outro abraço que a tornariam a fazer sentir a mulher mais feliz do mundo! Era só o trazer de volta aquele dia em que tudo foi único e transcendente!

Mas... faltou um querer, um outro querer que não era o seu! E, aquela mulher nunca mais deixará de olhar o chão que para sempre dos pés lhe fugiu!

Aquela mulher não correu atrás da libelinha! 

Para sempre perdeu a vontade de sorrir e sonhar, porque pensava ser um pouquinho, apenas um pouquinho... na vida de quem um dia, para ele foi muito! 

A partir daquele dia, o rio todos os dias vê mais uma lágrima a engrossar suas águas!

Celeste Almeida, a autora deste texto.



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