São tantos, tantos
Implorando proteção.
Barrigas dilatadas
Corpos vestidos de andrajos
Pezinhos feridos, descalços
As mãos vazias de pão.
Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão.
Por favor! Por favor!...
Parece ninguém escutar
Parece ninguém ouvir
O grito sem direção…
Parece ninguém ligar
À sua triste condição.
Não querem saber
Não lhes prestam atenção.
Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão.
São maus, são frios e calculistas
Esses egos inflamados
com pedras no coração.
São prepotentes, antipáticos
E só se deixam tocar
Pelas feridas da indiferença
E da alienação.
Vozes famintas desesperam
Milhares de mãos se estendem
Na ânsia desesperada
De alcançarem alimentos
Para sua nutrição.
Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão.
Os poderosos não ligam
Não têm pelo outro empatia
Muito menos compaixão.
Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão.
Como saciar tanta boca
Agora sem lar nem pão?
São tachos vazios
Alguidares sem esperança
Cântaros de incertezas
Outrora transbordantes de bonança.
- Por favor, Senhor!
Escuta a minha oração:
Não permitas que crianças passem fome
Nem as deixes à mercê das balas perdidas
Nem lhes enclausures os sonhos
No cinzento aterrador
Dos campos de concentração,
Onde falta a confiança e a dignidade
O colo e o aconchego de que precisam
Para crescer e sonhar em liberdade.
Por favor, Senhor!
Não os deixes a definhar
Nos becos do desconhecido
Que o muro do desespero comporta
Nem lhes feches as janelas do alento
Nem as portas que a brisa atravessa
Para afagar os semblantes condoídos
Onde ainda reside a esperança.
Sensibilidade precisa-se e, afinal
Simpatia e afetos também.
Solidariedade e entrega aos irmãos
Carinho e compreensão
Amor abnegado e fraternal.
Não os deixes, pelo ódio, consumir
Ajuda-os, Senhor, a perdoar e a entender
Que a vida, muitas coisas boas, ainda lhes reserva.
Afasta-lhes da mente os traumas que tolhem
E que de alma livre, sem mágoa, voltem a sorrir.
Dulci Ferreira, a Autora do Poema