03 Jun
03Jun


São tantos, tantos 

Implorando proteção. 

Barrigas dilatadas 

Corpos vestidos de andrajos 

Pezinhos feridos, descalços 

As mãos vazias de pão. 

Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão. 


Por favor! Por favor!... 

Parece ninguém escutar 

Parece ninguém ouvir 

O grito sem direção… 

Parece ninguém ligar 

À sua triste condição. 


Não querem saber 

Não lhes prestam atenção. 

Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão. 


São maus, são frios e calculistas 

Esses egos inflamados 

com pedras no coração. 

São prepotentes, antipáticos 

E só se deixam tocar 

Pelas feridas da indiferença 

E da alienação. 


Vozes famintas desesperam 

Milhares de mãos se estendem 

Na ânsia desesperada 

De alcançarem alimentos 

Para sua nutrição. 

Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão. 


Os poderosos não ligam 

Não têm pelo outro empatia 

Muito menos compaixão. 

Que Deus e os Anjos lhes deitem a mão. 


Como saciar tanta boca 

Agora sem lar nem pão? 

São tachos vazios 

Alguidares sem esperança 

Cântaros de incertezas 

Outrora transbordantes de bonança. 


- Por favor, Senhor! 

Escuta a minha oração: 

Não permitas que crianças passem fome 

Nem as deixes à mercê das balas perdidas 

Nem lhes enclausures os sonhos 

No cinzento aterrador 

Dos campos de concentração, 

Onde falta a confiança e a dignidade 

O colo e o aconchego de que precisam 

Para crescer e sonhar em liberdade. 


Por favor, Senhor! 

Não os deixes a definhar 

Nos becos do desconhecido 

Que o muro do desespero comporta 

Nem lhes feches as janelas do alento 

Nem as portas que a brisa atravessa 

Para afagar os semblantes condoídos 

Onde ainda reside a esperança. 


Sensibilidade precisa-se e, afinal 

Simpatia e afetos também. 

Solidariedade e entrega aos irmãos 

Carinho e compreensão 

Amor abnegado e fraternal. 


Não os deixes, pelo ódio, consumir 

Ajuda-os, Senhor, a perdoar e a entender 

Que a vida, muitas coisas boas, ainda lhes reserva. 

Afasta-lhes da mente os traumas que tolhem 

E que de alma livre, sem mágoa, voltem a sorrir.




Dulci Ferreira, a Autora do Poema

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