13 Jul
13Jul

Aqui, sou também um coração que chora...

Não, não quero saber do dia, daquele dia que se esconde entre os filtros de luz! Quero saber, sim, dos dias, em que minha alma comunica com a natureza, com as gentes, com os lugares.

Amo, amo as gentes como amo as rosas de sal que florescem nas pedras.
Amo, amo as gentes como amo as silvas suspensas no aroma da serra. Amo, amo as gentes que sempre apertaram meu peito e dormiram comigo nas enxergas de palha. Não, não quero saber do dia, daquele dia cego, mudo e paralítico que caminha no tempo à procura do nada e da terra de ninguém.
Amo, amo o mistério dos nichos, das alminhas, das capelinhas, que resistem aos astros , que preservam o alfa e são o princípio sem fim.
 

Porque sou, porque existo, porque venero, me curvo perante Aquele que reina além da Terra.


A Ele eu devo, a Ele eu agradeço, o ar que respiro, a serra, este mar vestido de verde, onde fiz o meu mundo que todas as noites espera a alvorada. 

Aqui...eu sou, aqui, só aqui a minha alma vive livre e voa nas asas dos sonhos que me levam às torres dos mais altos castelos. 

Aqui...eu sou, eu vivo com o meu pensamento, tantas vezes, feito de suplícios, de dores, que me fazem peregrina da mais sofredora Arte Sacra, mas que me traz as palavras, os gestos, os olhares, os abraços das gentes que conseguiram decorar a alma com o jardim mais belo, nascido nos calos das mãos. 

Aqui, eu sou...aqui, existo, neste amado silêncio, onde o coração só fala para aqueles que o sabem ouvir. 

Aqui, eu vivo o amor, o verdadeiro amor que lava e seca todas as lágrimas da minha alma. 

Aqui...eu me ajoelho, me curvo, perante aqueles que nunca souberam o significado da palavra "desisto", porque para estas gentes o ponto final só é posto na palavra "morte". 

Aqui...sou também um coração que chora, porque ouviu durante a noite o rouxinol chorar.‍ 

Celeste Almeida, a autora deste texto.


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