Hoje,
Hoje quero ser selvagem:
Animal,
Vegetal,
Nascente,
Montanha agreste,
Respirar a saudade
Do cheiro da savana,
Das acácias,
Do anoitecer,
Dos rugidos das feras,
Chorar como os elefantes
Quando perdem as crias,
Caçar
Qual leoa faminta.
Hoje quero ser a neve,
Juba do Kilimanjaro,
Quero correr,
Mais do que as chitas,
Ser mais alta que as girafas,
E ser bela como as gazelas.
Hoje quero rir como as hienas,
Rastejar como as mambas,
Limpar a selva como os abutres,
Ter o poder dos crocodilos,
E o porte dos gorilas.
Hoje quero ser café,
Numa roça de S. Tomé,
Corrente do Limpopo,
Cascata de Malanje,
Acasalar o medo com a paz,
Na esperança de ser pomba branca.
Hoje e sempre,
Maria Dulce Araujo, a autora do poema