«Não há pior prisão do que as lágrimas que engolimos para dentro».
Hoje, decidi olhar-me por dentro e fazer um balanço reflexivo do tempo que foi e do tempo que é.
Perscruto cada página, cada momento de mim, buscando respostas e justificações para uma ou outra atitude mais incoerente e, todavia, me parece que cada passo, gesto ou força de expressão tiveram, no tempo certo e no espaço da ação, o seu perfeito encaixe.
Se pudesse voltar atrás no tempo não mudaria rigorosamente nada.
As areias ancestrais estruturaram e moldaram pela força da erosão, os mais robustos, belos e dignificantes monumentos da natureza.
-Tudo acontece com um propósito.
-Tudo tem uma razão de ser e não seríamos quem somos se não fossemos moldados por todas as forças da existência, pelas inúmeras vivências que nos amoleceram o coração e nos mostraram caminhos de maior ou menor realização.
A vida completa-se do bom e do menos bom, mas também do péssimo e do excelente.
Ninguém nos substitui nesta passagem pelo tempo. Cada um é um universo próprio, onde cabem todas as certezas e controvérsias.
Eu nunca poderia ser tu.
Tu nunca poderias ser eu e, no entanto, persegue-nos esta ânsia de uma plural unicidade.
Hoje, penso no que fui e no que sou e concluo que se sou é porque fui. Se acordo é porque vivo.
Se me questiono é porque existe em mim a necessidade de mais saber. Sei que já fui muito amada, creio que ainda sou.
Dentro de todas as possibilidades, decerto, também já fui odiada, incompreendida, malfalada e, apesar de tudo, ainda aqui estou.
Sempre dei de mim e, do mesmo modo, recebi.
Penso que não há dádiva sem reciprocidade, pois quem dá sempre recebe.
Ninguém dá mais ou menos, dá apenas o que o momento lhe propicia.
Ninguém é mais que ninguém.
A árvore ramifica-se e cada galho é, na sua essência, vital para a completude e extensão do todo. Também nós somos o complemento e a ramificação das raízes que nos sustentam.
Hoje senti necessidade de fazer esta meditação e descobri que não mudaria uma vírgula na minha história de vida, mas destacaria alguns vocábulos que me merecem maior atenção:
-SOLIDARIEDADE, porque podemos sempre fazer mais qualquer coisa por quem não foi tão bafejado pela sorte.
-HUMILDADE, porque nem sempre conseguimos reconhecer com serenidade os erros e as limitações que a vida nos impõe.
-GRATIDÃO, porque devemos recolher ensinamentos de tudo o que nos vai acontecendo ao longo da vida, não apenas das coisas boas que nos fazem vibrar de felicidade, mas, sobretudo, das coisas menos boas, pois são elas que nos levam a rever caminhos e prioridades e a mudar comportamentos, de modo a não cairmos na tentação de cometer tantas vezes os mesmos erros. São os momentos menos bons da existência que nos ensinam a viver. Na verdade, não conseguiríamos reconhecer o erro sem primeiro errar.
Gratidão à “Força Maior” que tudo rege, pelas pessoas de bem que vai colocando nos nossos caminhos e pelo dom da vida, da paz e da concórdia que, pela Sua graça, ainda nos assiste.
Dulci Ferreira, a autora do texto