Que aperto é este que sinto no peito
E que nó desajustado me estrangula a garganta
M´impede de respirar
E me faz pensar no horror dos atos cometidos
Nas crianças mortas, nos regaços despidos
Nos abraços suspensos, vazios
Nas lágrimas que lavam o sangue do chão
E mancham os rios…
Fecho os olhos e cerro os punhos de indignação
Suspiros desalinhados denunciam
O terror dos factos e uma tremenda frustração.
Entoam os gemidos dos anjos nos escombros enegrecidos
Almas inocentes vagueiam por ali
Procuram, confusas, o calor dos colos perdidos.
Ai Ucrânia, das madrugadas inquietas
Das sentinelas despertas
Dos atores em teatros de guerra caídos!
Por que fazem, os homens, tanto mal uns aos outros?
Não deviam, entre todos, encontrar felicidade?
Por que criam armas de destruição em massa
E por que atentam contra a existência
Não poupando lares, creches ou hospitais
Nem se importando com a dor das mães desesperadas
De almas dilaceradas pelo aperto de uma saudade
Que jamais lhes secará nos olhos…
E os carrinhos de bebé colados ao chão
Ali, vazios de afetos e emoções
Faróis no silêncio da noite apagados
Auras espectrais a refletir nos espelhos
Embaciados pela desesperança
E pela mágoa que macera os corações.
Ai, Ucrânia
Onde se vive o terror da morte e da destruição!
E os outros… ai, os outros
Os tantos que experienciam a mesma condição
Mas de quem pouco se fala
Os traços da pobreza e da fome que a vergonha cala
Tão exibidos pelos meios de comunicação…
Ao estender o olhar sobre os cenários da guerra
Que diariamente nos chegam pela televisão,
Ousamos pensar e, em pensamento, questionar:
Terão, certos homens
Um bloco de gelo no lugar do coração?
Será que não beijam seus filhos
Que não lhes dão colo e aconchego
Que não lhes afagam os cabelos macios
Que não lhes sorriem com zelo
O peito inchado de orgulho e adoração?
Para quê ambicionar o mundo
Quando, para a eternidade
Necessitamos apenas de um pedacinho de chão?
Ai, Ucrânia
Das profundas feridas
Das dores que jamais sanarão!
Os prepotentes querem dominar o planeta
Subjugar, coagir, amedrontar, destruir…
Será loucura, estádio desatinado
Egocentrismo, ganância desmedida
A busca pelo dinheiro, pelo poder e pela sobreposição
E também o desrespeito pelo semelhante,
Por si mesmos e por todas as formas de vida.
Que as guerras terminem no mundo e de vez
Que o diálogo e a compreensão se instalem.
Que as mentalidades evoluam em liberdade
E se respeite o espaço de cada um
Tal como suas crenças e convicções.
Ousemos o amor como arma.
Ousemos as flores como balas.
Ousemos o perdão como bálsamo para sanar as feridas.
Ousemos a paz para a reconstrução do mundo e da vida.
Dulci Ferreira, a autora do texto