08 Oct
08Oct


Que aperto é este que sinto no peito 

E que nó desajustado me estrangula a garganta 

M´impede de respirar 

E me faz pensar no horror dos atos cometidos 

Nas crianças mortas, nos regaços despidos 

Nos abraços suspensos, vazios 

Nas lágrimas que lavam o sangue do chão 

E mancham os rios… 



Fecho os olhos e cerro os punhos de indignação 

Suspiros desalinhados denunciam 

O terror dos factos e uma tremenda frustração. 

Entoam os gemidos dos anjos nos escombros enegrecidos 

Almas inocentes vagueiam por ali 

Procuram, confusas, o calor dos colos perdidos. 


Ai Ucrânia, das madrugadas inquietas 

Das sentinelas despertas 

Dos atores em teatros de guerra caídos! 



Por que fazem, os homens, tanto mal uns aos outros? 

Não deviam, entre todos, encontrar felicidade? 

Por que criam armas de destruição em massa 

E por que atentam contra a existência 

Não poupando lares, creches ou hospitais 

Nem se importando com a dor das mães desesperadas 


De almas dilaceradas pelo aperto de uma saudade 

Que jamais lhes secará nos olhos… 


E os carrinhos de bebé colados ao chão 

Ali, vazios de afetos e emoções 

Faróis no silêncio da noite apagados 

Auras espectrais a refletir nos espelhos 

Embaciados pela desesperança 

E pela mágoa que macera os corações. 


Ai, Ucrânia 

Onde se vive o terror da morte e da destruição! 

E os outros… ai, os outros 

Os tantos que experienciam a mesma condição 

Mas de quem pouco se fala 

Os traços da pobreza e da fome que a vergonha cala 

Tão exibidos pelos meios de comunicação… 



Ao estender o olhar sobre os cenários da guerra 

Que diariamente nos chegam pela televisão, 

Ousamos pensar e, em pensamento, questionar: 

Terão, certos homens 

Um bloco de gelo no lugar do coração? 

Será que não beijam seus filhos 

Que não lhes dão colo e aconchego 

Que não lhes afagam os cabelos macios 

Que não lhes sorriem com zelo 

O peito inchado de orgulho e adoração? 


Para quê ambicionar o mundo 

Quando, para a eternidade 

Necessitamos apenas de um pedacinho de chão? 


Ai, Ucrânia 

Das profundas feridas 

Das dores que jamais sanarão! 


Os prepotentes querem dominar o planeta 

Subjugar, coagir, amedrontar, destruir… 

Será loucura, estádio desatinado 

Egocentrismo, ganância desmedida 

A busca pelo dinheiro, pelo poder e pela sobreposição 

E também o desrespeito pelo semelhante, 

Por si mesmos e por todas as formas de vida. 



Que as guerras terminem no mundo e de vez 

Que o diálogo e a compreensão se instalem. 

Que as mentalidades evoluam em liberdade 

E se respeite o espaço de cada um 

Tal como suas crenças e convicções. 


Ousemos o amor como arma. 

Ousemos as flores como balas. 

Ousemos o perdão como bálsamo para sanar as feridas. 

Ousemos a paz para a reconstrução do mundo e da vida.

Dulci Ferreira, a autora do texto

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