Sentado numa pequena pedra, um homem observava.
Era sempre a mesma pedra, isolada no meio da paisagem campestre, que o recebia no descanso do esforço e do espírito.
Sim, o grande homem já não tinha a agilidade de moço e não vinha sozinho: a netinha muito criança, era a sua companhia nos passeios de verão
-Avô, esta pedra é tua?
Tu dizes sempre:
Cá está a minha pedra.
-Não, pertence a esta terra! Só enquanto aqui estou sentado é que é minha.
-Ah, não a podes levar para casa, não é?
-O avô não precisa de a levar, lá em casa há bancos e cadeiras.
Após o silencioso descanso a dissecar o pensamento, o grande homem falou:
-Vamos apanhar pinhões?
-Sim avozinho! Vamos, vamos! Exultava a netinha.
Chegados aos pinheiros mansos, viram que o terreno arenoso estava enfeitado por uma profusão de pinhões, envoltos em pó escuro mascarrando as mãos, gordos a provocar o paladar.
O grande homem tirou um saco do bolso logo o dando à criança, que o foi enchendo de abundância.
-Avô, os pinhões são nossos, não são das árvores?
-Sabes, as árvores deram-nos os pinhões, caídos das pinhas que se abriram com o calor. Todos os dias dão, por isso tu os vens apanhar.
-Nunca acaba, avô?...
…Um dia, um avô e uma neta andarão a passear pelo meio das torres de betão da cidade, sem tempo para descansar…
-Avô, o que são pinhões?
Uma pergunta distraída enquanto digitava num teclado.
-São umas sementes muito caras, já quase não há!
A neta encolheu os ombros,… e digitava, digitava…
Maria Dulce Araujo, a autora do texto