29 May
29May

Sentado numa pequena pedra, um homem observava. 

Era sempre a mesma pedra, isolada no meio da paisagem campestre, que o recebia no descanso do esforço e do espírito. 

Sim, o grande homem já não tinha a agilidade de moço e não vinha sozinho: a netinha muito criança, era a sua companhia nos passeios de verão 

-Avô, esta pedra é tua?  

Tu dizes sempre: 

Cá está a minha pedra. 

-Não, pertence a esta terra! Só enquanto aqui estou sentado é que é minha. 

-Ah, não a podes levar para casa, não é? 

-O avô não precisa de a levar, lá em casa há bancos e cadeiras.  

Após o silencioso descanso a dissecar o pensamento, o grande homem falou: 

-Vamos apanhar pinhões? 

-Sim avozinho! Vamos, vamos! Exultava a netinha. 

Chegados aos pinheiros mansos, viram que o terreno arenoso estava enfeitado por uma profusão de pinhões, envoltos em pó escuro mascarrando as mãos, gordos a provocar o paladar.

O grande homem tirou um saco do bolso logo o dando à criança, que o foi enchendo de abundância. 

-Avô, os pinhões são nossos, não são das árvores? 

-Sabes, as árvores deram-nos os pinhões, caídos das pinhas que se abriram com o calor. Todos os dias dão, por isso tu os vens apanhar. 

-Nunca acaba, avô?... 

…Um dia, um avô e uma neta andarão a passear pelo meio das torres de betão da cidade, sem tempo para descansar… 

-Avô, o que são pinhões?

Uma pergunta distraída enquanto digitava num teclado. 

-São umas sementes muito caras, já quase não há! 

A neta encolheu os ombros,… e digitava, digitava…

Maria Dulce Araujo, a autora do texto

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