Rasga-te o ventre
O véu obscuro da morte
Num beijo de fúria
Ao entardecer
São poucos os que se importam
Com quantas vidas poderá colher.
Riem-se os tolos
Joga-se a sorte
Enquanto o monstro galga Sul e Norte
Destruindo tudo ao redor.
Chegam os abnegados que se entregam
Numa dádiva voluntária
E com lágrimas acalmam
A avidez da fornalha.
Grita o pai de dor
Dilacera-se o coração da mãe
Fica órfã a criança sem nada compreender.
O frio adensa o ar
A lua perdeu o brilho
O dia tornou-se breu
O monstro das labaredas venceu
Ao roubar-lhes, sem piedade
Mais um filho.
No mais profundo da alma
A perceção do vazio
O pranto seco da impotência
E o abraço eterno da saudade.
Dulci Ferreira, a autora do texto