No calor do Verão acontecem “coisas” quentes, escaldantes até.
Altas temperaturas ou a temperatura em alta, eram características exclusivas desta época, o que agora não acontece, ora porque o calor mudou de ritmo, ora porque as “coisas” quentes mudaram de estação.
Como a água tudo lava, o mar enche-se de gente apaixonada pela frescura azul, chapinhando ludicamente onde ganhou espaço, saindo de lá em trajes goticulares, logo evaporados pelo sol fervente…
Tudo ferve:
A areia escalda os pés, o corpo está ao rubro e por causa das “coisas” quer voltar ao mar, refrescar as ideias esturricadas presas nos corpos quase nus estendidos nas toalhas.
É a grande metragem.
As conversas dos vizinhos já não têm segredos, as carteiras são generosas para com os vendedores de bolas de berlim, gelados, refrigerantes, batatas fritas.
Cheira a protetor solar por todo o lado.
Em alternativa há o campo, o fresquinho da sombra, a manta do piquenique, o garrafão de vinho, a família, os amigos, os cães, os gatos, as cantigas espontâneas.
Também existem outras “coisas”, lumes onde não há mar, nem campos capazes de apagar fogos de alma atiçados ao longo de todas as estações, vulcões inativos.
Não há tempo, o calor do Verão urge.
Haja algum vigilante de serviço que faça de água, de sombra, que cante cantigas de embalar, que seja o sol evaporizante das gotinhas do rosto, tornando leves as consciências.
Há “coisas” que não vêm nos livros, estão escritas na alma.
Maria Dulce Araujo, a autora do texto