Nesta época festiva, onde a família impera reunida numa mesa sob as luzes das ruas, árvores e olhares, seja também tempo de recolhimento e reflexão.
Todos querem ser reis magos em oferendas embelezadas, enfeitadas com laçarotes, ou pais e mães Natal que aguardam pelo alarido e alegria das crianças ou o sorriso grato dos adultos. Mesas repletas de iguarias e o tempo passa…
Passa rápido sem dúvida…
Nesta época festiva acende-se a memória:
Sim, a mãe está na cozinha a preparar a massa para os sonhos, o pai demora a trazer o perú para pôr de molho com rodelas de laranja e limão.
Eu, eu não chego à chaminé, mas vou buscar o banquinho para poder pendurar a meia que o Pai Natal vai encher…ou talvez não…depende. Ando sempre a mudar as figurinhas do presépio, as avós todos os anos dão-me mais duas ou três, cada uma, e eu fico toda contente por ir aos eucaliptos apanhar musgo para o pai lhes fazer os caminhos.
Hoje…hoje é hoje!
As velhinhas árvores pequeninas aconchegam a casa, a minha cadelinha dorme, eu preparo-me para terminar o cachecol do meu campeão.
A família junta-se, amanhã numa casa, depois no dia seguinte noutra… festejando esta época festiva.
Para mim o Natal é diário, trezentos e sessenta e cinco dias no ano.
Falar de quem nada tem, não carece de palavras, mas sim de atos. Eles existem e não têm sonhos para “comer”.

Maria Dulce Araújo, a autora do texto