Não adianta procurar-te em lugares que não visitas nem tentar encontrar-te nos sonhos que não tens.
Se partes, avassala-me a solidão.
Se ficas, separa-nos a vidraça da janela, por onde diariamente outros mundos se nos oferecem.
Faz tempo que não te vejo! As portas fecharam-se e as estradas convidam a outras viagens.
Os dias acontecem plenos e soalheiros, e as noites sustentam recordações que registo com a ponta dos dedos em narrações monótonas e confusas.
São frases conjugadas onde a saudade é terreno calcado pelas ausências da vida.
De ti nada sei!
A primavera findou e as andorinhas partiram à procura de outros rumos, levando no bico os teus beijos e, até agora, nenhuma regressou com notícias tuas.
Lembro de como outrora outras brisas nos afagaram e lamento com pesar a despedida.
Não… não sabes como é enorme a minha saudade!…
Depois do teu silêncio, tão denso e profundo, não consegui ouvir outras vozes, ainda que estas, na timidez dos dias, me gritassem ao ouvido que não virias mais.
In “Na Companhia das Letras”, 2011
Dulci Ferreira, a autora do texto