08 Apr
08Apr

Não adianta procurar-te em lugares que não visitas nem tentar encontrar-te nos sonhos que não tens. 

Se partes, avassala-me a solidão.  

Se ficas, separa-nos a vidraça da janela, por onde diariamente outros mundos se nos oferecem.  

Faz tempo que não te vejo! As portas fecharam-se e as estradas convidam a outras viagens. 

Os dias acontecem plenos e soalheiros, e as noites sustentam recordações que registo com a ponta dos dedos em narrações monótonas e confusas. 

São frases conjugadas onde a saudade é terreno calcado pelas ausências da vida. 

De ti nada sei! 

A primavera findou e as andorinhas partiram à procura de outros rumos, levando no bico os teus beijos e, até agora, nenhuma regressou com notícias tuas. 

Lembro de como outrora outras brisas nos afagaram e lamento com pesar a despedida. 

Não… não sabes como é enorme a minha saudade!…    

Depois do teu silêncio, tão denso e profundo, não consegui ouvir outras vozes, ainda que estas, na timidez dos dias, me gritassem ao ouvido que não virias mais.

In “Na Companhia das Letras”, 2011

Dulci Ferreira, a autora do texto

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