Não!
Não digas que me amas
quando sempre te ausentas de mim
se já não me encontro em ti
nem nessas mãos que rasavam a pele
nem nesses dedos que me acariciavam.
Não digas que me amas
se já não somos beijo e aconchego
nem canto ao luar.
Se a luz de mim que em ti refletia
já te não conduz àquele lugar
de toque e arrepio
de protuberância de montanha
de serpentear de rio.
Não digas que me amas
se já não há sussurros ao ouvido
nem o deslumbre do olhar
quando ao longe me vias chegar.
Não digas que me amas
se minha falta já não é sentida,
se meu colo já não é porto de abrigo
se teus lábios já não estremecem
de vontades e desejo
quando estão perto dos meus,
nem o teu corpo me diz
como outrora me dizia
recordando o amor feito
na brancura dos lençóis
que nos envolviam.
O tempo apaga os sonhos
o corpo definha e, lentamente
perde a vitalidade e a ousadia
de dizer
de fazer
de sentir
se o mantiveres adormecido.
Não digas que me amas,
nem promessas de amor ao vento atires
se és apenas sombra ou reflexo de vazio
o marasmo e a letargia a deambular
sem nenhuma convicção ou esperança,
pois já terás perecido
mesmo que ainda respires.
Acorda e vive!
Este é o tempo certo
a madrugada por ti tão esperada.
Agarra-a!
Agora!
Dulci Ferreira, a autora do poema