Vagueei nesses teus desertos áridos, ilhas virgens em longínquo mar perdidas.
Queria ir mais além, encontrar sabedoria, e como Eva colhi esse fruto proibido.
Depois comi, e assim me descobri na sede de mais saber.
Nesse abismo em que caí, me encontrei em leito alheio, primeiro, tua, depois, só e nua nessa escuridão opaca.
E procurei minha essência numa floresta encantada, de mitos tão povoada e de trilhos decalcados por inúmeras pegadas… umas minhas outras tuas… de tantas vidas presentes e outras tantas já passadas.
Olho em frente nessa imensidão distante… Ao meu lado, outra imensidão igual.
Atrás de mim, o vazio. Sim… sinto frio! Solto os cabelos, tapo com eles os meus seios e enroscada neste chão, deixo-me ficar inerte… e espero… Depois, um calafrio, um arrepio na pele e dá-se a metamorfose…
Sou terra, árvore, pedra!
Sou rio que flui e em teu corpo serpenteia.
Sou lava quente, cor vermelha, luz fulgente que te envolve e nos espelhos dos teus olhos se reflete.
Sou o calor dos teus dias, água fresca que te banha e do alto do teu ser em queda livre se despenha.
Sim… sou barco que à deriva flutua e no teu mar de palavras desagua.
Sou Eva e tu, Adão, que do fruto proibido ambos ousámos provar e, contudo, nus e sós, a ciência e o saber continuamos a procurar.
“ENVOLVÊNCIA”, 2013 (Edição do Autor)
Dulci Ferreira, a autora do texto