22 Apr
22Apr

Vagueei nesses teus desertos áridos, ilhas virgens em longínquo mar perdidas. 

Queria ir mais além, encontrar sabedoria, e como Eva colhi esse fruto proibido.  

Depois comi, e assim me descobri na sede de mais saber.  

Nesse abismo em que caí, me encontrei em leito alheio, primeiro, tua, depois, só e nua nessa escuridão opaca. 

E procurei minha essência numa floresta encantada, de mitos tão povoada e de trilhos decalcados por inúmeras pegadas… umas minhas outras tuas… de tantas vidas presentes e outras tantas já passadas. 

Olho em frente nessa imensidão distante… Ao meu lado, outra imensidão igual. 

Atrás de mim, o vazio. Sim… sinto frio! Solto os cabelos, tapo com eles os meus seios e enroscada neste chão, deixo-me ficar inerte… e espero… Depois, um calafrio, um arrepio na pele e dá-se a metamorfose… 

Sou terra, árvore, pedra!  

Sou rio que flui e em teu corpo serpenteia.  

Sou lava quente, cor vermelha, luz fulgente que te envolve e nos espelhos dos teus olhos se reflete. 

Sou o calor dos teus dias, água fresca que te banha e do alto do teu ser em queda livre se despenha.  

Sim… sou barco que à deriva flutua e no teu mar de palavras desagua.  

Sou Eva e tu, Adão, que do fruto proibido ambos ousámos provar e, contudo, nus e sós, a ciência e o saber continuamos a procurar.  


“ENVOLVÊNCIA”, 2013 (Edição do Autor)

Dulci Ferreira, a autora do texto

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