04 Apr
04Apr

Podia a neve da montanha pesar nos seus passos, podiam as águas frias lavar sua roupa, podia a serra esconder os lobos e os ventos amedrontar as rochas, mas nada impedia a senhora Palmira de se doar ao próximo! 

Diz o povo, que “quando se faz uma panela, logo se faz o testo para ela”.  Falando da senhora Palmira, este dito popular assenta que nem uma luva, porque tanto ela como o seu marido, deixaram um rasto inapagável de boas virtudes, que muito orgulha a sua filha Lídia Costa e o seu filho Fernando Silva, frutos de um amor que a Terra de Vera Cruz não conseguiu separar.

O regresso do senhor António fez crescer esta onda solidária, visto ser um homem que expressava uma bondade extraordinária. 

Sempre que um animal adoecia, era nas suas mãos virtuosas que as pessoas confiavam a vida do porco ou do vitelo. Mal era chamado por alguém, o senhor António munido da injeção e do antídoto corria “ a sete pés” com o único propósito de salvar o animal doente. 

Mas, os seus dons iam mais longe!  

Na época, existiu muito uma doença chamada Carbúnculo.  

O Carbúnculo era uma infeção da pele, mais comum na nuca e nas costas. Esta doença manifestava-se com caroços, inchaços e pus, podendo ser fatal caso não fosse tratada. 

O senhor António curou esta doença infeciosa a muitas pessoas, recorrendo ao seu conhecimento popular.  

Arrancava uma pena de uma galinha de preferência branca, pegava numa caixa de fósforos, num frasco com tintura de iodo e numa agulha. Punha tudo dentro de uma caixinha e incansável, acorria ao doente para o tratar. Desinfetava a agulha na chama do fósforo, furava o caroço, espremia o pus e, com a ajuda da pena, cobria a zona infetada com tintura de iodo, repetindo o tratamento de três em três dias, até que o doente ficasse totalmente curado. 

Felizmente, este casal, foram outras duas pessoas que Deus colocou no meu caminho.  

Os três dias de férias do carnaval fui passá-los à minha terra. A viagem era feita de “carreira” até às Portas do Montemuro. No Montemuro o taxista de Alhões, o senhor José esperava-me para me levar até Vila Boa de Baixo

Aldeia de Alhões

Quando lá cheguei, já o sol se inclinava atrás dos montes e o frio respirava das pedras. Eu preparava-me para pôr os pés na serra.  Olhei à minha volta e a natureza pareceu-me triste e obscura, talvez por ser a primeira vez, que eu iria calcorrear os montes sozinha. Não nego que me estava a causar algum receio, mas... tinha que ir, porque “outros valores se alevantavam” e de nada valia eu fechar-me num habitáculo de medo. 

-Senhora professora, senhora professora!  

Para onde vai a esta hora?  

A noite não tarda e vai “apanhá-la” na serra!  

-Venha, venha cá, por favor!  

Deixe aí a mala que o meu António já a vai buscar!  

Era a senhora Palmira, com um balde na mão, que para mim falava a uns metros de distância. 

A sua capacidade intrínseca em se importar comigo tocou-me bastante. Alertou-me dos perigos que eu corria, se, naquele fim de tarde, fosse para Pimeirô.

Celeste Almeida;  Autora do texto

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