Hoje senti falta dos nossos abraços.
Há pensamentos nostálgicos que me vêm envolver
há muros difíceis de transpor
lugares inesquecíveis a povoar-me a lembrança:
a eira, as ruas agora desertas
a lonjura das estradas que parecem só levar…
Não há mais pétalas de rosas vermelhas
espalhadas na colcha de croché, feita à mão
ou largadas nos soalhos inocentes da nossa ilusão.
Sem ti, não há aromas de incenso
a inebriar os nossos sentidos
nem roupas coloridas largadas
nas costas de um qualquer cadeirão,
mas há vazios e silêncios que nos gritam
há música e bailados que nos agitam
há arrepios de espinha e de pele
nas recordações que à mente assomam.
Sem ti não há mais melodias trauteadas
pelos labirintos da nossa saudade
nem gemidos de prazer a ecoar noite adentro
nem sorrisos de contentamento
ou lágrimas de alegria a brotar do coração.
Sem ti não há o toque suave dos dedos
nem cabelos a esvoaçar ao vento
nem mão na mão, nem olhos nos olhos…
Tudo servia para despertar em mim
aquela vontade louca de me seres Sol
e de eu te ser Lua cheia
prenhe de alegria e emoção
a maior parte do tempo.
Enfeitiçado, me seduzias.
Embevecida, a ti me entregava
e de corpo e alma, nos sentíamos plenos.
Hoje, por momentos, nos recordei
e todo o meu ser se agitou
como se sentisse ainda aquela sensação
que o sabor dos teus beijos deixava na minha boca
Aberta
Sedenta de ti.
Há cenários que vale a pena recordar
como o riso alegre e espontâneo das crianças
o chocalhar dos guizos das cabras
o chiar das rodas dos carros de bois
o toque do sino às Trindades
a recitação do Rosário
as preces em pensamentos elevados
os lençóis que nos aconchegavam
o revolver de corpos noite adentro
a adrenalina dos instantes…
Sim!
Posso dizer
que nesta nossa vivência e ausência permanente
ainda me pertences
e ainda me és fome e alimento.
Inédito
Dulci Ferreira, a autora do texto