08 Jul
08Jul

Hoje senti falta dos nossos abraços. 

Há pensamentos nostálgicos que me vêm envolver 

há muros difíceis de transpor 

lugares inesquecíveis a povoar-me a lembrança: 

a eira, as ruas agora desertas 

a lonjura das estradas que parecem só levar… 


Não há mais pétalas de rosas vermelhas 

espalhadas na colcha de croché, feita à mão 

ou largadas nos soalhos inocentes da nossa ilusão. 

Sem ti, não há aromas de incenso 

a inebriar os nossos sentidos 

nem roupas coloridas largadas 

nas costas de um qualquer cadeirão, 

mas há vazios e silêncios que nos gritam 

há música e bailados que nos agitam 

há arrepios de espinha e de pele 

nas recordações que à mente assomam. 


Sem ti não há mais melodias trauteadas 

pelos labirintos da nossa saudade 

nem gemidos de prazer a ecoar noite adentro 

nem sorrisos de contentamento 

ou lágrimas de alegria a brotar do coração. 


Sem ti não há o toque suave dos dedos 

nem cabelos a esvoaçar ao vento 

nem mão na mão, nem olhos nos olhos… 


Tudo servia para despertar em mim 

aquela vontade louca de me seres Sol 

e de eu te ser Lua cheia 

prenhe de alegria e emoção 

a maior parte do tempo. 


Enfeitiçado, me seduzias. 

Embevecida, a ti me entregava 

e de corpo e alma, nos sentíamos plenos. 


Hoje, por momentos, nos recordei 

e todo o meu ser se agitou 

como se sentisse ainda aquela sensação 

que o sabor dos teus beijos deixava na minha boca 

Aberta 

Sedenta de ti. 


Há cenários que vale a pena recordar 

como o riso alegre e espontâneo das crianças 

o chocalhar dos guizos das cabras 

o chiar das rodas dos carros de bois 

o toque do sino às Trindades 

a recitação do Rosário 

as preces em pensamentos elevados 

os lençóis que nos aconchegavam 

o revolver de corpos noite adentro 

a adrenalina dos instantes… 


Sim! 

Posso dizer 

que nesta nossa vivência e ausência permanente 

ainda me pertences 

e ainda me és fome e alimento.


Inédito

Dulci Ferreira, a autora do texto

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