30 Dec
30Dec

Passou sem dar sinal a borboleta que outrora preenchia o meu regaço. 

Se era verde o meu ego?  

Não sabes qual é a cor da esperança?  

Lembro-me de quando deixava cair o coração ao avistar-te, ainda longe, seguindo as estradas da minha di­reção... 

Não sei se acontecia o mesmo contigo, pois só eu tinha coragem para o reconhecer. Só eu to confidenciava, ainda que no lusco-fusco de mais um dia a tentar encontrar as marcas dos teus passos na fria calçada por onde habitu­almente passavas. 

E não era o limiar da minha porta que transpunhas quando entravas, nem quando saías em infindas madrugadas.  

De longe te mirava.  

E lá seguias, enquanto eu regava com lágrimas a minha alma, na frustração ou impo­tência de não te poder ter ou de não te poder ser mais além. 

Mesmo sem te conhecer, já o vento me rumorejava, ao ou­vido, a cor instável do teu nome. 

Para que saibas, cheguei a ensurdecer de tanto ouvi-lo, até no silêncio agridoce dos nossos lençóis, em gritos de dor ou de prazer que abraçavam o tempo em que eu sonhava virmos a ser um mesmo sen­timento.  

Tu, porém, sempre quiseste voar livremente pelo teu infinito firmamento... 

Quanta instabilidade!...  

Por vezes, dizias que o ar do meu universo era insuficiente à ambição do teu respirar... 

Se soubesses o quanto isso me doía!  

De­cidi, então, abrir-te as portas e colocar-te as asas para que voasses rumo ao sol-posto do desconhecido, e no entretanto, as mesmas portas abri ao tempo, para que, se no tempo re­gressasses, no tempo voltasses a ficar comigo.

Dulci Ferreira, a autora do texto

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