Passou sem dar sinal a borboleta que outrora preenchia o meu regaço.
Se era verde o meu ego?
Não sabes qual é a cor da esperança?
Lembro-me de quando deixava cair o coração ao avistar-te, ainda longe, seguindo as estradas da minha direção...
Não sei se acontecia o mesmo contigo, pois só eu tinha coragem para o reconhecer. Só eu to confidenciava, ainda que no lusco-fusco de mais um dia a tentar encontrar as marcas dos teus passos na fria calçada por onde habitualmente passavas.
E não era o limiar da minha porta que transpunhas quando entravas, nem quando saías em infindas madrugadas.
De longe te mirava.
E lá seguias, enquanto eu regava com lágrimas a minha alma, na frustração ou impotência de não te poder ter ou de não te poder ser mais além.
Mesmo sem te conhecer, já o vento me rumorejava, ao ouvido, a cor instável do teu nome.
Para que saibas, cheguei a ensurdecer de tanto ouvi-lo, até no silêncio agridoce dos nossos lençóis, em gritos de dor ou de prazer que abraçavam o tempo em que eu sonhava virmos a ser um mesmo sentimento.
Tu, porém, sempre quiseste voar livremente pelo teu infinito firmamento...
Quanta instabilidade!...
Por vezes, dizias que o ar do meu universo era insuficiente à ambição do teu respirar...
Se soubesses o quanto isso me doía!
Decidi, então, abrir-te as portas e colocar-te as asas para que voasses rumo ao sol-posto do desconhecido, e no entretanto, as mesmas portas abri ao tempo, para que, se no tempo regressasses, no tempo voltasses a ficar comigo.

Dulci Ferreira, a autora do texto