28 Jan
28Jan

Há gente que parte para sempre 

Sem se despedir 

Sem dizer adeus... 

E gente que fica com a gente 

E passa pela vida 

Sem nunca se dar 

Sem uma expressão de afeto no olhar 

Sem mostrar para ninguém 

A verdadeira cor da sua essência. 


Há gente que deambula por aí 

Sem se encontrar 

Sem perceber as distâncias 

Entre o real da sua presença 

E o utópico da sua exigência 

Gente de um opaco despertar 

Para os dias que ainda brilham 

Para as manhãs que o orvalho ainda vem beijar 

Com seu bafo húmido e fresco. 


Há gente que a gente entende 

Ter perdido a capacidade de sonhar. 

Por vezes, também me sinto assim 

E, talvez por isso, 

Hoje seja apenas indiferença. 


Não quero gostar 

Não desejo agradar 

Não penso, sequer. 


Hoje, simplesmente não me habito. 

Não me vejo a rasgar 

O percurso sinuoso desta minha existência 

Nem me apreendo qualquer verdejante 

Ou íngreme protuberância. 


Não sinto prazer nos colos que me embalam 

Ou segurança nas mãos que me sustentam. 

Sou um corpo rendido à letargia 

Que me mantém presa ao leito 

Onde outrora fomos fogo e euforia. 


É lento o bater da máquina 

Que carrego no peito... 

Não há ânimo nela 

Nem descompasso ou adrenalina 

Apenas um andamento apático e imperfeito 

Num coração de menina. 


Hoje serei assim 

Porque há gente que se diz 

E se coloca a jeito 

Mas que no final da estrada 

É gente, exatamente, igual a mim. 


21/01/2025

Dulci Ferreira, a autora do texto

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