Há gente que parte para sempre
Sem se despedir
Sem dizer adeus...
E gente que fica com a gente
E passa pela vida
Sem nunca se dar
Sem uma expressão de afeto no olhar
Sem mostrar para ninguém
A verdadeira cor da sua essência.
Há gente que deambula por aí
Sem se encontrar
Sem perceber as distâncias
Entre o real da sua presença
E o utópico da sua exigência
Gente de um opaco despertar
Para os dias que ainda brilham
Para as manhãs que o orvalho ainda vem beijar
Com seu bafo húmido e fresco.
Há gente que a gente entende
Ter perdido a capacidade de sonhar.
Por vezes, também me sinto assim
E, talvez por isso,
Hoje seja apenas indiferença.
Não quero gostar
Não desejo agradar
Não penso, sequer.
Hoje, simplesmente não me habito.
Não me vejo a rasgar
O percurso sinuoso desta minha existência
Nem me apreendo qualquer verdejante
Ou íngreme protuberância.
Não sinto prazer nos colos que me embalam
Ou segurança nas mãos que me sustentam.
Sou um corpo rendido à letargia
Que me mantém presa ao leito
Onde outrora fomos fogo e euforia.
É lento o bater da máquina
Que carrego no peito...
Não há ânimo nela
Nem descompasso ou adrenalina
Apenas um andamento apático e imperfeito
Num coração de menina.
Hoje serei assim
Porque há gente que se diz
E se coloca a jeito
Mas que no final da estrada
É gente, exatamente, igual a mim.
21/01/2025
Dulci Ferreira, a autora do texto