Fala-me de ti… das pedras que te revestem o corpo, dos alicerces que te sustentam a alma, das histórias que nunca contaste, das memórias que por dentro guardas, dos segredos a sete chaves fechados, dos cânticos entoados no eco das enseadas.
Fala-me de ti… dos sonhos que ainda consegues preservar, dos mistérios escondidos que não te permites revelar, dos amores proibidos que sentiste, mas nunca pudeste partilhar.

Castro Daire – A Ermida do Paiva, o Monumento Nacional!
Fala-me de ti… das mãos que te erigiram, das vozes que te disseram, das marcas esquecidas no tempo, das viagens peregrinas por carreiros de terra batida, das notícias que te chegavam de longe.
Fala-me de ti… das sandálias que te calçaram os pés, das lágrimas que por ti escorreram, do suor que te temperou os dias e as horas.
Fala-me de ti… desses séculos de espera, das vidas que tomaste, das siglas indecifráveis e das tentativas goradas de um tempo que se fez tempo, mas que não te derrubou.

Fala-me de ti… da robustez dos teus dias, das estações que por ti passaram, dos anos que te contaram e das vidas que te habitaram.

Fala-me de ti… do canto do rio que te banha, dos lavradores a incitar os bois a rasgar a terra, dos pastores e do gado rompendo o ar gélido da montanha, do aconchego das protuberâncias agrestes da serra.

Vem!
Fala-me de ti!

Dulci Ferreira, a autora do texto