(50 Anos do 25 de Abril)
Esta liberdade que nos prendeu o olhar
Que nos impulsionou para os braços um do outro
Que nos fez dizer sim a cantar
No gracitar de uma gaivota em pleno voo
Esta liberdade, hoje tão estranha e confusa…
Apesar da sua inconstância e precaridade
É ainda a liberdade dos nossos enredos
A mesma liberdade que nos fez lançar
As sementes à terra
No calo das mãos e da enxada
Mãos cheias de tudo e de nada
Abertas ao tempo das estrofes e dos poemas.
Esta liberdade foi-nos outrora miragem
Apenas vontade de alcançar
O infinito devaneio das nossas vontades
De nos podermos livremente navegar
Tu, o meu lugar de sonho e afago
Eu, a tua mais ambicionada paragem
De colo, de alma, de chão, de mar...
Esta liberdade é nossa, pertence-nos
Foi por nós sonhada, desejada, querida
Mas pelas incertezas tolhida
Pelas limitações castrada
Pelas probabilidades ostracizada
Essa liberdade de agora
Que nos limita a respiração e o grito.
Esta liberdade tornou-se um apelo abafado
Por já não haver liberdade para dizer
O que nos aperta por dentro
O que nos faz ser saudade e lamento
Na impossibilidade de fazer acontecer.
Esta liberdade é nó sufocado na garganta
Murro no estomago, correntes nos pés
Boca selada, onda parada
Protesto calado na agitação das marés.
Sim, pertence-nos esta liberdade
Que nos fez meio século de vitórias
É a mesma liberdade que agora nos escapa
E nos faz perder a identidade.
Quero a outra liberdade, aquela
Que juntos, com flores conquistámos
Não ma roubes do coração
Não a prendas entre quatro paredes
Não a deixes morrer de fome e desilusão.
Em liberdade te amei
De livre vontade a ti me entreguei
Depois, vi-te partir para a terra queimada
Para o chão ressequido e ardente de um deserto
Que também em mim passou a existir
Eu, que sempre te fui ilha virgem e farta
Recanto à beira-mar plantado
A paz do viver do nosso sentir.
Traz-me a Liberdade desse Abril tão desejado!
Traz-me a cor carmim dos cravos, que afinal
Salpicaram de cor e fizeram desabrochar
O nosso tão lindo e amado Portugal!
Dulci Ferreira, a Autora do poema