10 Dec
10Dec

(50 Anos do 25 de Abril) 

Esta liberdade que nos prendeu o olhar 

Que nos impulsionou para os braços um do outro 

Que nos fez dizer sim a cantar 

No gracitar de uma gaivota em pleno voo 

Esta liberdade, hoje tão estranha e confusa… 


Apesar da sua inconstância e precaridade 

É ainda a liberdade dos nossos enredos 

A mesma liberdade que nos fez lançar 

As sementes à terra 

No calo das mãos e da enxada 

Mãos cheias de tudo e de nada 

Abertas ao tempo das estrofes e dos poemas. 


Esta liberdade foi-nos outrora miragem 

Apenas vontade de alcançar 

O infinito devaneio das nossas vontades 

De nos podermos livremente navegar 

Tu, o meu lugar de sonho e afago 

Eu, a tua mais ambicionada paragem 

De colo, de alma, de chão, de mar... 


Esta liberdade é nossa, pertence-nos 

Foi por nós sonhada, desejada, querida 

Mas pelas incertezas tolhida 

Pelas limitações castrada 

Pelas probabilidades ostracizada 

Essa liberdade de agora 

Que nos limita a respiração e o grito. 


Esta liberdade tornou-se um apelo abafado 

Por já não haver liberdade para dizer 

O que nos aperta por dentro 

O que nos faz ser saudade e lamento

Na impossibilidade de fazer acontecer. 


Esta liberdade é nó sufocado na garganta 

Murro no estomago, correntes nos pés 

Boca selada, onda parada 

Protesto calado na agitação das marés. 


Sim, pertence-nos esta liberdade 

Que nos fez meio século de vitórias 

É a mesma liberdade que agora nos escapa 

E nos faz perder a identidade. 


Quero a outra liberdade, aquela 

Que juntos, com flores conquistámos 

Não ma roubes do coração 

Não a prendas entre quatro paredes 

Não a deixes morrer de fome e desilusão. 


Em liberdade te amei 

De livre vontade a ti me entreguei 

Depois, vi-te partir para a terra queimada 

Para o chão ressequido e ardente de um deserto 

Que também em mim passou a existir 

Eu, que sempre te fui ilha virgem e farta 

Recanto à beira-mar plantado 

A paz do viver do nosso sentir. 


Traz-me a Liberdade desse Abril tão desejado! 

Traz-me a cor carmim dos cravos, que afinal 

Salpicaram de cor e fizeram desabrochar 

O nosso tão lindo e amado Portugal!

Dulci Ferreira, a Autora do poema

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