(Citando Hilda Hilst, uma poetisa brasileira, considerada a maior escritora em língua portuguesa do século XX)
“Um poema não se explica.
É como um soco.
Se for perfeito, alimenta-te para toda a vida.”
Sem qualquer pretensão, é a este “soco” que me refiro quando digo que a minha necessidade de escrever poesia vem de um “baque” que me aperta no peito e me diz que tenho de exteriorizar o que sinto no momento.
Apesar disso…
Que poeta conseguiu alguma vez
Definir o real sentido da Poesia?
Muitos tentaram, mas em vão.
Ninguém a pode definir
Porque a poesia é cada um na própria essência
É cada um na própria efervescência
É cada um na sua forma de ser e de estar.
É cada um no seu agir e pensar
É cada caractere do verso que plasma e desvela
O que sentimos no mais profundo da alma.
Ela está na água da fonte
Nas pedras do rio que a corrente contorna
No infinito mar dos devaneios.
Ela está no amor consentido e no furtuito
Na paixão que brota do entrelaçar dos dedos
No abraço que acolhe e conforta.
A Poesia é essencialmente Fado,
Pois há sempre uma saudade incompreendida
Um aperto no peito que fere e arrasa
Por uma qualquer ausência no coração retida.
Um tu, pedaço de mim
Um eu que faz falta em ti
Um feeling, uma estranha sensação
Um sentimento de amor
Um frenesim de paixão.
A Poesia é o corpo a latejar
O desejo frenético do que nos faz sentir bem
É a explosão do corpo no delírio dos sentidos
É a mais pura verdade e a total ilusão
A envolvência do todo e de cada um a fração
A magia da conquista, o orgasmo dos olhos e das mãos
Porque “não há poeta que não sinta o seu corpo vivo”.
Na poesia tudo tem aroma,
Porque não é apenas o perfume de uma flor
Mas o mais extenso jardim
E toda a alquimia concentrada no verso
Na estrofe
No poema.
A poesia é originalidade, beleza sublimada
Surpresa e arrebate dos sentidos.
Porque vem do âmago, habita-nos.
Ela está em tudo o que possamos viver e observar…
É o dia a começar
A aurora a raiar e a refletir nos dias e nas horas que nos fogem.
É a aura crepuscular
A noite serrada que ao leito chama.
A estrela que guia
O Sol que aquece e alumia
O revolver dos lençóis no conforto da cama.
Ela é o sonho e a capacidade de realizar.
Mas é também a frustração e a impotência
Que tantas vezes carregamos dentro
E por isso…
Não há poeta que não sofra e chore
As suas dores e as do mundo
No caos que as guerras provocam
Na fome que mata aos milhões por ano
Nas doenças fatais
Nas lutas desiguais
No vandalismo
No fanatismo
Na falta de sensibilidade humana
Pois que até a morte se tornou banal.
Apesar de tudo
Não há poeta que não saiba embalar as palavras…
Aquietá-las, envolvê-las
Acariciá-las, elevá-las, seduzi-las
Cheirá-las, mastigá-las e saciar-se com elas.
Porque a poesia é
A estrela cadente que se perde no abismo
Mas também a cidade que somos
Iluminada por dentro.
Vá lá… pede um desejo…
Novo livro de Dulcí Ferreira lançado em 26/10/2024
Dulci Ferreira, a autora do texto