29 Oct
29Oct

(Citando Hilda Hilst, uma poetisa brasileira, considerada a maior escritora em língua portuguesa do século XX) 

“Um poema não se explica. 

É como um soco.  

Se for perfeito, alimenta-te para toda a vida.” 


Sem qualquer pretensão, é a este “soco” que me refiro quando digo que a minha necessidade de escrever poesia vem de um “baque” que me aperta no peito e me diz que tenho de exteriorizar o que sinto no momento.

Apesar disso… 


Que poeta conseguiu alguma vez 

Definir o real sentido da Poesia? 

Muitos tentaram, mas em vão. 

Ninguém a pode definir 

Porque a poesia é cada um na própria essência 

É cada um na própria efervescência 

É cada um na sua forma de ser e de estar. 

É cada um no seu agir e pensar 

É cada caractere do verso que plasma e desvela 

O que sentimos no mais profundo da alma. 



Ela está na água da fonte 

Nas pedras do rio que a corrente contorna 

No infinito mar dos devaneios. 


Ela está no amor consentido e no furtuito 

Na paixão que brota do entrelaçar dos dedos 

No abraço que acolhe e conforta. 


A Poesia é essencialmente Fado, 

Pois há sempre uma saudade incompreendida 

Um aperto no peito que fere e arrasa 

Por uma qualquer ausência no coração retida. 

Um tu, pedaço de mim 

Um eu que faz falta em ti 

Um feeling, uma estranha sensação 

Um sentimento de amor 

Um frenesim de paixão. 


A Poesia é o corpo a latejar 

O desejo frenético do que nos faz sentir bem 

É a explosão do corpo no delírio dos sentidos 

É a mais pura verdade e a total ilusão 

A envolvência do todo e de cada um a fração 

A magia da conquista, o orgasmo dos olhos e das mãos 

Porque “não há poeta que não sinta o seu corpo vivo”. 


Na poesia tudo tem aroma, 

Porque não é apenas o perfume de uma flor 

Mas o mais extenso jardim 

E toda a alquimia concentrada no verso 

Na estrofe 

No poema. 


A poesia é originalidade, beleza sublimada 

Surpresa e arrebate dos sentidos. 

Porque vem do âmago, habita-nos. 


Ela está em tudo o que possamos viver e observar… 

É o dia a começar 

A aurora a raiar e a refletir nos dias e nas horas que nos fogem. 

É a aura crepuscular 

A noite serrada que ao leito chama. 

A estrela que guia 

O Sol que aquece e alumia 

O revolver dos lençóis no conforto da cama. 

Ela é o sonho e a capacidade de realizar. 

Mas é também a frustração e a impotência 

Que tantas vezes carregamos dentro 

E por isso… 


Não há poeta que não sofra e chore 

As suas dores e as do mundo 

No caos que as guerras provocam 

Na fome que mata aos milhões por ano 

Nas doenças fatais 

Nas lutas desiguais 

No vandalismo 

No fanatismo 

Na falta de sensibilidade humana 

Pois que até a morte se tornou banal. 


Apesar de tudo 

Não há poeta que não saiba embalar as palavras… 

Aquietá-las, envolvê-las 

Acariciá-las, elevá-las, seduzi-las 

Cheirá-las, mastigá-las e saciar-se com elas. 


Porque a poesia é 

A estrela cadente que se perde no abismo 

Mas também a cidade que somos 

Iluminada por dentro. 


Vá lá… pede um desejo…


Novo livro de Dulcí Ferreira lançado em 26/10/2024

Dulci Ferreira, a autora do texto

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