No indecifrável confronto das expressões faciais
Os olhos são a candeia que nos alumia
O tato a bússola que nos orienta
O odor dos corpos
O aroma que nos embriaga os sentidos
E liberta as emoções mais contidas
Num êxtase concupiscente
Que percorre os esconsos labirintos
Da estrutura do meu ser.
É o regaço onde te deitas
O colo que abrasa ao sentir-te assim…
Perto, fogoso, ereto
No vigor do desejo em nós retido.
Quando nos doamos, tudo em redor se coaduna
Todos os preceitos se desvanecem
Na loucura do momento consentido.
É teu, o meu universo
Onde riscas e rabiscas as vontades loucas
Que te consomem a alma.
Contornas com a ponta dos dedos
A estrada curvilínea que nos leva ao prazer.
São as proeminências do meu corpo
Que delicadamente reténs na palma da mão
Laranjas de suco doce
Que descascas com vigor e prontidão.
Por vezes, faminto desse vital colostro
Absorves de mim o líquido doce
Qual droga ou vício que se entranha
E ao qual nenhum dos dois sabe dizer não.
Neste marear viciante
Em que todo te dás e toda me dou
Somos mar de espuma ondulante
Rio de lava incandescente
Sal da vida que tempera os dias e as noites
Em que me desenhas flor.
Entre suspiros e arroubos de satisfação
A Lua deita-se e o Sol levanta-se
E eu acordo no leito dos teus braços
Bem juntinho ao coração.
De novo, olhos nos olhos
E já a resposta certa na ponta da língua
Denunciada pelo rubor da expressão:
- Sim!
Quero!
Amo-te! I
n “13 MULHERES COM VÉNUS”, Edições Vieira da Silva, 2023
Dulci Ferreira, a autora do poema