Quando o silêncio cala
Dizem de si os pássaros
Os soalhos que rangem
As flores que libertam os aromas mais doces.
Dizem de si os ventos que passam
E fazem balançar as searas.
Dizem de si as cigarras no seu canto
A terra lavrada
O verde-esperança dos campos semeados.
O silêncio também fala
E disse sobre nós ontem
E diz sobre nós hoje
E certamente dirá sobre nós amanhã
Na justa medida das nossas ações.
Sim!
O silêncio também fala
E eu calo
No exato momento em que se me impõe
Como se me soprasse ao ouvido
Palavras de não dizer
Sons só para despertar
Sentires só para nos envolver
Como hera que aconchega o tronco
A casa, os corpos
Quando a paixão acende o desejo
E o êxtase acontece.
Sim!
O silêncio também fala e cala
Quando convida ao retiro
À introspeção.
É nessas alturas que perguntamos por nós
E na incessante procura, nos encontramos
E escutamos os gritos da alma e do coração.
Aí, nos descobrimos fragilidades
Na simplicidade de sermos humanos.
É no silêncio que percebemos
Quanto nos aperta a saudade
Quando longe de quem amamos.
Coisas do silêncio que gostamos
Ou que, na verdade, precisamos ouvir.
Deixa que o silêncio te fale
O que já te não pretendo repetir.
Dulci Ferreira, a autora da poesia