Sentei-me neste banco de pedra a convite dos raios de sol, promissores daquele calor confortável das manhãs estivais. De olhos fechados, sinto a mente serena enquanto respiro, num apelo à motivação por poder existir naqualidade de resistente.
Os melros saltitam no relvado debicando aqui e ali, esvoaçantes pelo rumo que os traz de volta. É isso, mudamos constantemente de lugar, essa faculdade em alterar a nossa visão do horizonte, escolher qual deles quer alcançar e voltar ao ponto de partida transportando conhecimento debicado no então desconhecido.
Levanto-me catalogando o pensamento, arrumo as ideias no meu cofre sagrado, cujo segredo o meu coração guarda, sempre pronto a enfrentar uma causa batendo de afectos.
Misturo-me com os passantes. Os vai vem de todos os dias, onde quer que ande, que vá com ou sem destino, porque só é sozinho quem não usa os bancos de pedra, não vê os melros nos relvados, ignora o seu próprio horizonte e vive alheio ao seu coração na fuga aos passantes.
Maria Dulce Araújo
Maria Dulce Ferreira, a autora do texto.