04 Jul
04Jul

A distância que me separava da aldeia de Pimeirô, correspondia aos muitos anos de esquecimento, que enterrou aquelas aldeias montemuranas na miséria do Portugal Profundo.

Tão perto e tão longe, lastimava-me eu, sempre que aos fins de semana, meu desejo era ir abraçar aquelas gentes que estavam atrás do monte e que criaram raízes no meu coração! 

Eu não podia abandonar, não podia esquecer um povo que a única coisa que tinha de seu, era uma força imaginável e uma tremenda vontade de sobreviver naquela aldeia inóspita e tão ignorada! 

Eu tinha que ir, eu tinha que voltar a subir a serra, eu tinha que sentir de novo a pureza e a humildade daquele povo que tão triste ficou, porque a " senhora professora " para eles não voltou! 

Mas, como fazer?  

A serra era virgem e o medo de me perder naquele mar verde agudizava-me os passos. No entanto, com o passar dos dias, as saudades que eu sentia daqueles olhares tão ternos e daqueles abraços que me deram tudo no ano anterior, cresciam secretamente nas minhas orações da manhã. 

É verdade, que nada me faltava naquela linda aldeia aninhada no vale Bestança, abrilhantada pelos sorrisos afáveis dos seus habitantes! 

Sim, é verdade que eu tinha saído de uma aldeia com alma para outra aldeia com a mesma alma, mas havia um vazio que me cansava o coração

Eu silenciava esta saudade para não ferir a tia Arnaldina, esta bondosa senhora que passou a ser outra mãe que ganhei na serra. Não queria de forma alguma, que a tia Arnaldina interpretasse esta minha angústia, como sendo o preferir a aldeia de Pimeirô a esta de Bustelo da Lage! 

Bustelo da Lage

Não, porque ambas me deram tudo que serenou as noites dos lobos!

Até que um dia, a tia Arnaldina, vendo-me sentada junto à lareira, com a malga do caldo na mão olhando para o caniço, teve uma ideia que me deixou louca de alegria. 

-Senhora professora, hoje é sexta feira, porque não vai com o senhor Padre Xico no final das aulas até Vila Boa, dorme em casa da sua amiga tia Palmira e amanhã segue para Pimeirô? 

No domingo voltaria para a tia Palmira e na segunda feira o senhor Padre Xico trazia-a para a escola? 

Como não me tinha lembrado antes, de algo que parecia tão fácil? 

Ir ficar em casa da tia Palmira, meu Deus, que felicidade? 

E como ir de Vila Boa para Pimeirô?

Pimeiró

Sozinha, não, pois a tia Palmira jamais deixaria ir a senhora professora Sozinha!


Celeste Almeida, a autora do texto

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