22 May
22May

Penso ser a poesia o espelho onde nos revemos, e entendemos melhor o nosso avesso, pois os poemas parecem cruzetas em fim de dia, prontas a pendurar a pele num repouso necessário para limpar a alma. 

Há poemas escritos no céu inspirando na Terra quem os sabe ler, sendo que a poesia e a lua são o sustento da noite, provocando a madrugada a adormecer nos braços do dia. 

A vida para mim tem o significado da seiva, do fogo, da água. Em todas as premissas navega o princípio das coisas, o alimento do espírito. O foco da minha vida é ela própria, por isso 

SOU! 

Se a poesia é vida, nem sempre a vida é poesia. 


Outrora 

Via-te assim,   

O cigarro entre os dedos 

Os olhos fechados, 

Falavas com os teus segredos, 

Os outros que importam 

O momento era teu, 

Enquanto as vozes 

Zurziam lá longe, 

A música tocava 

O teu corpo gritava, 

Que importam os outros 

Se o som era teu. 


Tremiam-te as mãos 

O copo nos lábios, 

Bebendo ilusão 

Falando mais alto 

Que a tua razão 

E eu não ouvia, 

E eu não sabia, 

Que enquanto voavas 

As minhas asas tolhias, 

Pairavas no fumo 

Para lugar incerto. 


Eu via-te assim, 

Não te vejo agora, 

Demora de outrora.

Maria Dulce Araujo, a autora do texto

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