15 May
15May

Esgueirei-me pela estrada do tempo sem vislumbrar "aquela" pintura. 

O que será feito do quadro? 

Provavelmente não existe como obra física, apenas fruto da minha imaginação. 

Os artistas de tantas áreas diferentes deixam sempre a sua marca, a sua mensagem, através do que elaboram. Nas artes do meu tempo decorrido, nunca consegui criar "aquela" pintura, tudo tão intenso, tudo é tão calmo agora. Para viver os dois extremos é necessário ser-se vulcão e apenas cratera sem erupção. 

Pintar isto seria boa partilha, mas não tenho como. 

A minha paleta queixa-se de pausa, as tintas sem uso vão secando e as cerdas dos pincéis vão perdendo o toque macio. 

Contudo, nada na minha escrita é sinónimo de desistência : visto as palavras com cores bonitas, enfeitando o palco da existência, tratando-se de realidades. "Aquela" pintura é traquina passeando-se entre o ontem e o hoje, desafiando-me constantemente. 

Que significado tem a vida sem desafios? 

Sem a teimosia do querer, sem a tela para contar, sem o livro para continuar a descrever? 

Dia e noite são a queda da inércia, a luta para cortar a meta vitoriosamente, o foco do raciocínio, a vontade de saber-se capaz. Seremos então a flor nascida do cacto, desse útero improvável. 

Tudo na vida tem o seu espaço, canteiros de hortas ou jardins, não importa quais, pois o que se pretende é plantar... 

Nem que seja "aquela" pintura Imaginária.

Maria Dulce Araujo, a autora do texto

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