08 Feb
08Feb

No Lugar do Sobreposto, existe um penedo que desafia o desgaste dos tempos.

 Não sei se diga um penedo, ou se diga dois penedos, porque na realidade a valentia do penedo maior carrega com a magia de outro mais pequenino

Penedo sobreposto

Vou seguir a sabedoria das gentes de Bustelo da Lage, que o chamam o Penedo Sobreposto e sempre que falam dele o associam a uma lenda misteriosa vinda do tempo em que os Mouros invadiram a Península Ibérica.

Uma lenda igual a tantas outras lendas montemuranas e que tantos silêncios encerram.  

Foi num serão em casa do senhor Abílio, Deus o tenha, numa noite em que a luz da candeia iluminava nossos rostos e os montes selvagens eram habitados pelas aves noturnas e pelo uivo dos lobos, que eu ouvi mais uma misteriosa lenda. 

Não foi uma daquelas lendas de arrepiar, daquelas que como diz o povo, deixam os cabelos em pé! 

Não! 

Foi a lenda da Moura Encantada que vivia, ou ainda vive, nas entranhas do Penedo Sobreposto

Quem a viu?  

Foi um pastor que não conseguiu guardar um segredo há tantos anos fechado naquele rochedo. 

Logo pela manhã, um rapazinho de nome José levou seu rebanho para o Lugar do Sobreposto, onde as ervas tenras eram abundantes. 

Atento aos cabritinhos que saltitavam de pedra em pedra, não fosse surgir o lobo e levar algum, foi surpreendido por uma linda rapariga de cabelos muito negros, olhos enormes e toda vestida de branco. 

-Quem és tu?  

De onde vieste? 

-perguntou o pastorinho, muito assustado. 

-Não tenhas medo.  

Eu sou uma Moura Encantada.  

Só queria que me desses um pouco de leite, porque tenho muita fome!

-respondeu a linda rapariga. 

O pastor não queria acreditar no que estava a acontecer. 

Quem era aquela rapariga?  

Como apareceu ali?  

E como dar-lhe leite, se tão precioso era para sua mãe fazer os queijos? 

Mas, não podia abandoná-la com fome naquele ermo! 

Pegou no seu cantil, dirigiu-se à cabra que tinha as tetas mais cheias e mungiu-a. Depois, aproximou-se da Moura e deu-lhe o cantil cheio de leite. 

Esta agradeceu e desapareceu, misteriosamente. Parecia ter sido engolida pelo Penedo Sobreposto. 

De repente, antes que os seus olhos o enganassem, a linda rapariga reaparece com um púcaro cheio de bugalhos. 

-Toma, leva para tua casa.  

Não contes a ninguém o que sucedeu aqui e só quando meteres os animais na corte, é que podes tirar os bugalhos do púcaro. 

Dito isto, virou as costas e voltou a ser engolida pelo penedo. 

O pastor José aturdido com tudo que se estava a passar, chamou o rebanho e caminhou para a aldeia. 

Indiferente à recomendação da linda Moura, desfez-se de todos os bugalhos, excepto de um que tinha metido no bolso. 

No dia seguinte, ao vestir as calças, uma libra de ouro caiu no chão. Foi então que percebeu que algo misterioso tinha acontecido. 

Correu ao Lugar do Sobreposto. Encostou a boca ao penedo e desesperado chamou pela Moura com o intuito que esta lhe desse mais bugalhos. 

-O que queres de mim?  

Porque não fizeste o que eu te mandei?  

-gritava uma voz de dentro do penedo, até se calar para sempre.  

Quem não se calou foi o pastorinho. 

A todos os habitantes da aldeia, contou que no Penedo Sobreposto vivia uma jovem mourisca e o seu tesouro. 

Este mito funde-se com a singularidade das gentes humildes e passem os anos que passarem, avós, pais e netos contarão para sempre a mesma lenda: 

 a Lenda do Penedo Sobreposto.

Celeste Almeida: Autora do texto

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