Cidade de Mangualde onde se encontra Nossa Senhora do Castelo
São muitas as lendas que se contam em todo o país e nos transportam a tempos antanhos.
Vestidas de quimeras e utopias, transmitidas pela tradição oral, são fruto da imaginação do povo, mas, se soubermos ler nas entrelinhas, são alicerçadas em factos reais, capazes de explicarem o que é inexplicável de forma científica.
A lenda das Mouras da Senhora do Castelo é uma narrativa misteriosa, que sobrevive na memória das pessoas e que eu ouvi contar à minha mãe, vezes sem conta, enquanto fazia o farnel para irmos às festividades em honra da Senhora do Castelo.
Igreja de Nossa Senhora do Castelo
Começo por fazer uma retrospectiva histórica sobre este monte e só depois irei à lenda.
Em tempos muito remotos, num longínquo passado, o monte da Senhora do Castelo foi ocupado pelos Lusitanos, um dos povos que habitaram a Península Ibérica.
Mais tarde, deslocaram-se para o sopé dos Montes Hermínios, hoje, Serra da Estrela.
Em 218 a. C. os romanos desembarcaram na Península Ibérica e ocuparam este monte, devendo-se a eles a edificação de um Castelo no cume do monte, lugar privilegiado para identificarem possíveis invasores e se protegerem dos ataques dos inimigos.
Ruinas Romanas da Raposeira – Cidade de Mangualde
No ano de 711 , os mouros, termo usado para descrever outros povos da antiga província romana da Mauritânia, atualmente o Norte de África, ocuparam a Península Ibérica e tomaram o castelo que tinha um Alcaide mouro de nome Zurão.
Segundo reza uma lenda, certo dia, o Alcaide do castelo de Linhares, este cristão, convidou o mouro Zurão para um almoço de paz.
Claro que o objectivo dos cristãos era expulsar os mouros do monte e para tal, enquanto Zurão degustava um manjar dos deuses, os cristãos incendiaram-lhe o castelo.
O povo mouro fugiu às chamas destruidoras, no entanto, algumas mouras esconderam-se nos penedos existentes na colina.
Reza a lenda, que nas noites de luar, muitas mouras, vagueiam pelo monte, cobertas com véus transparentes.
Algumas, tecem em teares de ouro e marfim, os tecidos finos para as suas túnicas. Outras, aAlisam seus longos cabelos loiros com pentes de ouro e aquelas que ficaram sem os seus amores, olham a lua e cantam canções muito tristes , à espera de verem surgir na escuridão da noite, o brilho de uma espada de ouro que as virá libertar.
Diz o povo, que muitos são os tesouros escondidos naqueles montes, mas, só um pé de ovelha, uma pata de relha ou a Maria guedelha os poderão achar.
Assim, contou o povo de outrora.
Assim, diz o povo de agora.
Assim, eu também ouvi contar à minha saudosa mãe.
Celeste Almeida a autora do Texto