Tenho a fome do tempo numa travessa de um bairro na aldeia da minha memória, como uma porta que se abriu franqueando-me a saudade. E aqui estou no postigo a olhar para o futuro.
Tenho a fome do tempo, nenhum trago me satisfazendo, na impossibilidade do outrora retornar, naturalmente porque assim é. Sem desespero mas com a nostalgia de ter o tempo na mão e amassá-lo como pão.
Tenho a fome do tempo, daquele que resta como eu, subjugando o presente à férrea vontade de ter tempo, regando a terra deste meu vaso de barro onde planto a visão do horizonte, morada do tempo lá longe.
E todos, nalgum momento cuja majestade varia consoante o alimento de cada um, temos esse elo comum enquanto soubermos que para tudo existe um tempo.
Maria Dulce Araújo, a autora do texto