Volto Ciente de que nada na vida muda
Que apenas evolui, ou resiste
Transforma-se no fluxo vitae
Adapta-se, ajusta-se, molda-se
Mas nada muda, não, nada fica
Contudo, dou comigo perplexa
Encantada com esta não-mudança
Que ao mesmo tempo tudo vai mudar
A cada segundo que passa e vivo
A cada ar que inspiro e expiro
Sempre que olho o céu e a serra
Tudo vai mudando em mim, em nós
A água do rio, que canta na floresta
Jamais passará no mesmo lugar
Sem que de novo roce nestas pedras
Que a folha bênção que nos cai
Em suave bailado do velho castanheiro
Não mais me absorve de maravilha
Que sinto ao vê-la cair, silêncio
As nuvens altaneiras, cachos de algodão
Jamais me darão o mesmo sonho, criança.
Que o canto do pássaro em folhas escondido
Servirá apenas uma vez, um chamamento
Que cada momento, vivido ou perdido
Será para sempre um e único em mim.
Contempla então a serra
A vida, a fauna, a flora Mãe e filhote, macho caçador
Surpreende-te em cada brisa e flor
Com os peixes no seu frenético nadar
a busca incessante de abrigo e alimento
Os coelhos e os esquilos, roendo seus medos
Que trazem por dentro, homem faminto.
Observa os campos, os astros e as estrelas
E olha-me enfim em paz, em perdão
Pequena eu sou na mão do universo
Que em vida me doou e na morte me esqueço
Olha-me, ousa veres o meu corpo
Sem manto, véu ou mentira e dá-me
De todas as certezas a única em bondade
Que sabendo que mudo, essência verdade
Ciente que mudas, quem sabe a vontade
Que os dias que juntos aqui devorámos
Jamais tu esqueces, me guardas em ti
Pois se o poema só vive se lido
Assim a mulher só vive se amada!
Ruth Colaço: Autora da poesia