Alguém me disse um dia que a poesia era a cura para tudo.
Foi durante uma entrevista que fiz a um poeta, um fã incondicional do Pequeno Príncipe. Na altura ouvi, a entrevista continuou, mas a frase ficou.
Com o tempo percebo que realmente a poesia tem e teve o dom de mudar muita coisa na minha vida.
No meu dia-a-dia há muito que me inspirava em coisas simples e belas. Escrevia, sim escrevia muito, mas não partilhava.
Foi preciso partir um braço, sim parti-lo.
O direito. risco de ficar sem braço, ou até sem uso dele, o medo que se apoderou de mim e vontade incrível e resiliente de não desistir, de não perder o braço, a mão. A mão, meu Deus! eu sou professora! eu escrevo….
Durante meses lutei, fisioterapia, terapia ocupacional, lágrimas, vitorias milimétricas.... e como primeira meta decidi que seria pegar numa caneta, com a mão direita.
Foram muitos os meses. o cérebro dava a ordem e o braço nem sequer obedecia.
Até que um dia, peguei num marcador preto, daqueles dos quadros da escola, e numa folha A4, escrevi C H E I L A. O nome da minha filha, escrito em lilás (sabem o que a cor lilás representa?.... que chakra?).
Toda aquela folha ganhou mais valor que um diploma, uma tese.....
Poesia. O nome da minha filha foi ali pura poesia.
Sendo ela também poeta, ofereci-lhe a folha, como em tempos ela me oferecia desenhos e letras
.....
Por isso, não me digam "não sei, não consigo, não sou capaz...." há sempre uma maneira.
Um dia conto-vos como decidi fazer a primeira sopa sozinha.... braço direito sem ação....
e mão esquerda... bem essa mão também teve que aprender. Porque Deus deu-me duas mãos.
E contigo? como foi?
Ruth Collaço e a Uta em mim.
(Agradecimento especial a Carmen Renata Correia Cabral, Cheila Collaço Rodrigues pela força e amor, e à Terapeuta Inês Rodrigues a mulher que me "devolveu" a mão.)
Depois. muito depois... escrevi um poema.
Comecei então a viagem até mim
Sentei-me comigo e medi o tempo
Comparei-me no caminho já feito
Nas metas e obstáculos, nas dores e raivas
As ganas que tive de medos vencer
Enfrentar barreiras, galgar obstáculos
Remendos que trago na alma e no corpo
São marcos e pontos no mapa que traço
Respiro... expiro... detenho o olhar
Preservo a visão o foco imposto
Percebo então nem sempre o caminho
Me leva até onde eu pensei chegar.
Mas hoje cheguei, parei e olhei
Ao ponto que frágil um dia deixei
Erguendo aos céus meus olhos cansados
Aconchego a alma em braços, guerreira
Carrego a certeza que o ciclo da vida
Não para nem estanca por mais que eu caia.
Que a luz que me habita
Reveste e protege
É luz que me guia
Por mim intercede.
Se hoje caíste, frágil te tens
Oh vem pois comigo, entrega e confia
Pois eu te asseguro, pois sou prova viva
Que as provas da vida, serão tuas conquistas.
Ruth Collaço @direitos.
Ruth Collaço, a autora destes textos.