Quanto vezes a vida meu corpo feriu e quantas vezes, desamparada meu rosto caiu tombada, a rajadas de vento me agarrei e ergui-me, agarrando-me aqui e ali ao que tinha e havia e até ao que não tinha.
Quantas vezes com raiva me encolhi e chorei por dentro procurava as forças, sobras, que tinha, pescando-as com anzóis num rio de lágrimas onde nada sobrava apenas o mar, salgado.
Nas ondas desse mar, tantas vezes solidão, outras aflição, encontrei sempre, arrancadas do fundo do mar as conchas fechadas, que pérolas tinham para eu colher.
Quantas vezes dobrei os joelhos, falando com o Deus, que parecia estar mudo, do meu destino zombava, aos céus erguia os olhos, atirava-lhe audaz o meu rosto de olhos incrédulos, e mãos vazias, perguntei porquê.
E nas vagas da vida, eu fui flutuando, cega, confiando, deixando as correntes, que a nada obedecem, levasse meu barco, por ventos ferozes a porto seguro.
Hoje, sentada na praia, ao pôr do sol, banhada do seu ouro, conto as rugas, vejo as cicatrizes, e as marcas na pele, histórias contadas, aventura vividas, as minhas conquistas.
Aqui, eu dobro os joelhos, perante o meu Deus, sem pranto, sem choros, as mágoas carrego, e a ele agradeço por estar nesta praia, mais forte, mais sábia, mais viva, sabendo quem sou, sem saber para onde vou, levanto o meu rosto, recolho a âncora, subo as velas, no barco vida quero navegar.
Espero apenas a sétima onda, e um bom marinheiro.
(Ventos Sábios)
Ruth Collaço, a autora deste texto.