11 Aug
11Aug

Que faço eu com tudo isto que me vai na alma e no pensamento? 

Que faço eu aos meus ais, aqueles que engulo mal os sinto chegar.

Já os sentiste?

Acordo. 

É tão difícil acordar…

De manhã?

Não. Acordar, acordar!

Arrasto-me da cama, enfio os pés nas pantufas, gosto de andar descalça, mas calço-me para ninguém me começar a controlar e ordenar logo de manhã (eis um dos prazeres de ter crescido em Africa), por isso calço-as, só para ter mais 3 segundos de silêncio.

Uma rápida ida à casa de banho e arrasto-me para a cozinha. 

Cozinha? Cubículo com bancada, quero eu dizer.

Café, pão… e a tv que já está sempre ligada e tão alta.

Invade-me tudo o que existe à minha volta. Não estou pronta para este dia.

Enfrento, como um touro enfrenta o toureiro. 

Não porque quer (sim porque i touro não quer…), mas porque foi posto na arena e é suposto ele agir de acordo com o estímulo que lhe é provocado. 

E se o “touro” deixasse de investir? 

Olho à volta e vejo a “arena” pronta para o espetáculo.

E se eu não acordasse.? 

Pois…. Mas tarde demais, eu já acordei!

Acabo de comer, levanto-me, arrumo a loiça na máquina. Grande parvoíce! …Leva-se tanto tempo a pôr e tirar a loiça na máquina quanto o tempo que se leva a lavar loiça. E mais…. Eu cá gosto muito de lavar a loiça. Como mais ninguém cá por casa gosta de o fazer, aproveito e tiro este tempo para mim, só para mim, dentro de mim e mais ninguém na minha cabeça... 

que paz! 

É para mim, uma das formas de meditação a que recorro.

Há algo nos gestos repetitivos que me esvazia a mente e me “leva” a folhear o livro dos pensamentos e a gerir sentimentos, sem que ninguém o tenha descoberto, guardo para mim este tesouro.

Mas… hoje em dia já toda a gente tem máquina de lavar loiça…


Ventos Sábios – Ruth Collaço ©
Em: Conversas com Voz


Ruth Collaço, a autora deste texto.


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