14 Sep
14Sep

Quando o silêncio se instala em mim, não é ausência 

— É presença.  

Uma presença antiga, feita de vozes que não se ouvem, mas se sentem. 

Mulheres que vieram antes, que caminharam descalças sobre a terra molhada, que sabiam ler os sinais do céu e ouvir o sussurro das águas. 

Eu sou feita delas.  

Sou feita de rezas murmuradas ao entardecer, de mãos que curam sem saber como, de olhos que enxergam além da razão. 

A paz que me habita não se explica. Ela escorre pelos cantos do corpo como um rio que conhece o caminho sem precisar de mapa. 

A razão tenta-me puxar pelos ombros, exige provas, exige lógica. 

Mas há dias em que a alma se recusa a ser convencida. 

E nesses dias, eu me recolho. 

Me recolho como quem volta ao ventre, como quem escuta o tambor do coração da terra. 

A minha espiritualidade não tem nome, não tem templo. 

Mora no cheiro do alecrim queimando… 

No som da chuva que cai sem pedir licença… 

No ciclo da lua que me ensina sobre renascimentos… 

É uma fé que não se ajoelha — dança. Uma fé que não se impõe — acolhe. 

E quando me sento em silêncio, sinto as mulheres que me habitam. Elas não têm rosto, mas têm força. Elas não têm voz, mas têm canto. 

Sou ponte entre mundos.  

Entre o visível e o invisível.  

Entre o agora e o eterno. 

E nessa travessia, descubro que a paz não é ausência de conflito 

— É presença de sentido.  

É saber que há algo maior que me guia, mesmo quando tudo parece escuro. É confiar no que vibra, no que pulsa, no que não se vê. 

Hoje, escolho ser raiz e copa. Escolho crescer para dentro e para o alto. Escolho honrar cada raio de Luz que me habita…  

Com o gesto simples de R-E-S-P-I-R-A-R. 


Ventos Sábios  


Aforismo: 

Sou como a árvore que dança com o vento — firme na raiz, livre na copa. Cada galho é uma lição e vivência, cada folha, um segredo que floresce em mim.

Ruth Collaço, a autora do texto e aforismo    

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