09 Mar
09Mar

“Com que então, pensavas que eu te ia deixar estar nesse estado…! sinceramente!” 

Assim do nada como se de um solavanco se tratasse, oiço estas palavras a ecoarem no peito. 

Que susto! 

Olhei à volta e nada vi…. 

Pois, claro! Era Ela, aquela Voz de novo, só podia ser!  

Ainda ontem se fartou de me “desostinar” a cabeça, e hoje volta à carga…

Será que não há sossego nesta vida?! Qualquer dia mando-a para a reforma! 

Sem paciência nenhuma dou comigo quase a refilar como menina mimada. 

“O que é que foi agora? Não bastou o raspanete de ontem?”.  

Engulo rapidamente a vergonha de ter respondido daquela maneira e sem dar sequer sinal de que sabia do que a Voz se estava a referir, virei-me para frente, estendi-me ao comprido na relva. 

Barriga para o ar, mãos na nuca, contemplei o céu como se já estivesse de novo sozinha. 

Silêncio…. “Será que se foi embora?” pensei. 

De novo e sem dar conta mergulhei de novo naquele estado nostálgico de autocomiseração e indulgência ao qual, por vezes, gosto de me afundar. Esta coisa de ser poeta tem destas coisas, destes dias…. 

Bem dizia o meu pai que não há poetas felizes… deixei ir o pensamento agarrado a uma nuvem passageira. 

Passageira como a nuvem dou por mim de novo a divagar, e agora já ia na canção que tanto gosto de cantar quando me abandono ao “dolce fare neinte” …  

∞“… 

Eu sou nuvem passageira…  

que com o vento se va-a-ai…  

eu sou como um cristal bonito,…  

que se quebra quando cáááí…”  

∞ 

Chega a ser irritante a forma como distraidamente canto essas palavras repetidamente… enfim! 

“Ai cais, e quebras! Quebras, quebras!” 

(Grrrrrrrrrrrrrrrrrr) sinto cá dentro, sem mostrar.  

Resignada, ergo-me, sento-me à chinês e sabendo que vou ter que ouvir, ponho-me em posição de meditação… talvez custe menos e além do mais, quem por mim ali no parque passar não vai estranhar de me ver ali de novo…. 

“Armada em Monja!” dizem uns….  

“Deixa a senhora Filho, ela está a falar com o céu”, dizem outros um pouco mais acordados.  

“Coitadinhaaaaa….” Diz a Voz, entre um pequeno e agudo risinho, juntando ao tom um toque irónico! 

“Uuuuuiiiii”, até senti um arrepio gelado embrulhar-me a nuca! 

Não ia dar para escapar. 

Enraizei, respirei fundo, preparei-me e pensei, enquanto acomodava melhor o traseiro na relva que a esta altura já me parecia estar colado ao solo, e pensei… 

“Vá… venha de lá o recado, que eu cá já estou por tudo.” 

“Deixa de ser autoindulgente!...  

Agora que já conseguiste começar…  

Atenção, só agora começaste!… a desapegar de pessoas e coisas que nada importam.  

Enquanto isto te pareça ter sido difícil, permite-te sentir o alívio sem culpas.  

Há sempre sabedoria por trás dos teus pensamentos e sentimentos. Tu sabes disso, e eu já não devia ter que te lembrar disso.” 

Sinto um pequeno alívio e penso: 

“Bem, não está a ser assim tão dura comigo hoje. Devo estar a fazer o meu trabalho minimamente bem.” 

Há escolhas que têm que ser feitas, filha.  

Escolher entre a tua necessidade de uma profundidade espiritual e a superficialidade do mundo, por exemplo 

Tu nunca estás no teu melhor quando tentas culpar os outros pelas tuas escolhas, lacunas e limitações.  

Desta vez conseguiste, decidiste contra tudo o contra todos, contra opiniões alheias. 

Escutaste(-me) acabando por perceber que quando sentes o conhecimento submergido numa cave escura das águas tua mente, é aí! 

É então que deves ser brava e forte, aperta o equipamento de mergulho, e vai à procura dele… sim, dele! 

Do conhecimento…  

Põe lá os príncipes encantados, os reis e valetes de lado agora…. Isto, a vida não é um jogo de cartas ou batota! 

Quanto mais abrangente conseguires que o teu foco seja neste momento da tua vida, mais fácil te será ter atenção ao que realmente importa. 

Ao simbolismo e sincronia do Universo à tua volta.  

A direção em que o teu poder pessoal te leva e orienta depende apenas na tua capacidade de o reconheceres… 

Sim, o teu poder, esquece os Joker´s e as cartas que a vida te atira…  

Vês!?  

Até me perco!  

Onde é que eu ia…?” 

Reviro os olhos e sussurro, “o meu poder pessoal…? 

Ias aí quando paraste” 

“Pois… tens razão. 

A direção em que o teu poder pessoal te leva e orienta depende apenas na tua capacidade de o reconheceres e controlares 

Simples. Simples assim.” 

Assoberbada com tanta clareza, fico… respiro… Uma brisa fez-me sentir sozinha de novo. 

Sozinha…  

Mas acordada, empoderada.  

Tinha encontrado o mapa para os próximos dias. 

IN:  

Conversas com a Voz 

Ventos Sábios 

Ruth Colaço, a autora do texto

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