A plenitude do ser não se mede pelo peso da carne nem pela sombra que o corpo projeta.
Ela revela-se quando a densidade visível se dissolve como véu e permite que o meu olhar atravesse o limite da matéria e alcance o sopro secreto que habita no outro.
É nesse instante que o encontro se torna rito:
Dois seres que se reconhecem não pela forma, mas pela essência que pulsa além da pele.
Porque o verdadeiro ser é chama oculta, é a raiz que se estende para além das fronteiras do tempo.
Quando ultrapasso a barreira física, toco o invisível que me sustenta, e ali descubro que o outro não é apenas presença, mas espelho da minha própria identidade. Cada gesto, cada silêncio, é ponte para a travessia onde me transmuto em templo e o encontro se torna oferenda.
Assim, a plenitude é o ato de ver com olhos que não se prendem à superfície, mas que se abrem ao mistério.
É a capacidade de sentir o invisível como se fosse palpável, de reconhecer no outro a mesma centelha que me habita.
Nesse espaço sagrado, o meu ser expande-se, e a densidade da matéria já não me aprisiona: torna-se apenas passagem para o infinito que (nos) une.
Já o silêncio da solitude é a morada onde o ser se expande sem pressa. Nele, cada respiração se torna ponte para o invisível, cada pausa é um altar erguido no interior da minha alma.
A contemplação não é fuga, mas mergulho:
Um descer às águas profundas onde o corpo já não pesa e a essência se deixa revelar como luz que atravessa a escuridão.
Quando me entrego ao silêncio, descubro que o outro não é distante, mas sim a vibração que ressoa.
A densidade física dissolve-se como areia levada pelo vento, e o encontro dá-se naquilo que não se vê
— Na chama que arde em segredo, na raiz que me/nos une à terra e ao cosmos.
A plenitude é então este estado de abertura:
Estar presente sem exigir, olhar sem possuir, tocar sem aprisionar.
É reconhecer que o ser verdadeiro não se encontra na superfície, mas naquilo que permanece quando todas as formas se desvanecem.
Assim, a contemplação é caminho e destino.
É o espaço onde o humano se torna templo, e o silêncio, oferenda.
É ali que eu me cumpro, não como conquista, mas como revelação.

Ruth Collaço, a autora do texto