Recolho-me para me olhar e me ver. Percebo que nada é real e tudo acontece à mesma.
Olho para trás e vejo as pegadas que evidenciam a minha passagem pelo tempo.
Sou eu que passo por ele e não ele por mim.
No corpo trago o mapa de cada paragem, cada viragem.
Rotas tomadas e escolhas vividas, em tudo percebo que não há certo ou errado, há escolhas e consequências. O bem e o mal lutam num flutuante equilíbrio medindo forças sendo que as minhas ações são a bitola perfeita para cada um.
E paro.
No desespero para encontrar um tempo em que eu possa fazer nova paragem, nova evidência do meu progresso no meu processo interior...
Mas não deixo de passar pelo tempo.
Paciente ele tenta acompanhar-me, mas eu tenho pressa e quanto mais corro mais ele me segue.
Pudéssemos os dois mais juntos andar sem ter que medir paços, passos, compassos, dias e anos, será que a vida parava ou será que a mesma passava por nós num leve desdém pelo tanto que tento pegar o seu tempo e fazer com que o mesmo passasse enfim, ele por mim?
Que o tempo é uma regra construída pelo homem, e eu, estou cansada de contar minutos.
Ruth Colaço: Autora do texto