Meto a haste de capim no canto da boca, encosto-me à esquina...
Não me sento na mesa, está toda peganhenta! para isso chega-me o suor no corpo, que esta m@rda de verão não há meio de acabar!
Estes dois intrigram-me...
Com a voz embargada por uma tristeza escondida, chegou-se a ela. Estendeu a mão por cima da mesa, de gesto aberto trazia na mão o aconhego que dizia que a queria mais perto.
É óbvio, estes já não enganam ninguém.
Os riscos na sua palma traçavam o mapa das suas estradas e rumos.
Sem que soubesse, estava escrito na palma da mão que um dia a dele iria acolher, entender, ouvir e até ler a palma da mão dela.
Ali estava ela, frágil e olhos molhados, a sua pele fina e perfumada emanava o cheiro da saudade e em vez de lhe dar a mão, levantou-se e abraçando-o de corpo, alma e pele, toda ela soltava um grito que só os dois ouviam....
Beijaram-se com os olhos, e abraçaram-se num beijo.
Despejaram naquela mesa que já tanto tinha ouvido durante todo o dia, mais um dia de luta e trabalho e saudade.
A mesa cansada rangia e gemia cada vez que um deles nela se apoiava.
Também ela estava cansada.
Logo de manhã, uma mãe apressada derramou o chocolate quente do filho e estava tão quente, que até fumegava. Claro que tinha que o derramar, afinal de contas o calor da pressa acaba por queimar a todos, ela bem pensa que eu não vejo... mas aposto que a tipa está quase a perder a estibeira!
Caraças! Fosse meu filho já lhe tinha chegado a roupa ao pelo!
Logo a seguir um jovem de aurículares, carregado de livros e Ipad debaixo do braço entornou sumo de laranja fresquinho...naquele arepio a mesa persistiu, mais um bocadinho e chegariam as senhoras do chá da onze... pelo menos a esta hora ficaria a saber dos novos medicamentos, do Zé que fugiu com a moça da padaria deixando a Manuela com 5 filhos!
Melhor para ela, pelo menos deixava de levar na tromba, a outra que levasse com o pão nas trombas!
Eu cá não compro jornais?
Porra!?
Antigamente ainda "pegava" neles (daqueles que se pegam as mãos), mas agora é guerras, impostos, e facadas..irra...!
Eu cá fico-me pelas notícias das velhas das onze! Sempre é mais barato, já tentei fanar uns auriculares, mas aquela m@rda além de ser incómoda dá uma dor de cabeça forte para xuxu!
Ao meio dia, chegavam os executivos, engravatdos e todos fatiotas. Este gajos são todos iguais, à hora do almoço são todos nhénhénhé.
É puxa cadeira, é oferece café, é elogio à blusa da colega quando o que o gajo está a micar mesmo é o belo par de mamas daquele decote! ao fim do dia, depois de já terem gasto os piropos pirosos, encontram-se com a sua "amada"... de trombas, gravata desalinhada e sem paxorra para lhe dizer o que quer para o jantar.
"Sei lá o que quero para o jantar.
Não há sobras?
Só pensas em gastar dinheiro e comer fod@-se!!"
Até parece que advinho a resposta dela
"Também... tens razão dou-te as sobras e mando vir para mim e para os meninos...para quem é bacalhau basta! E já vais com sorte! Hás-de querer e não hás-de ter!"
Mas hoje eles vieram, já não os via há dias. No meio do resumo que faço do dia, acabo por perder o fio à meada da conversa deles....
Porring!" que um gajo divaga um pouco e perde logo o comboio.
Ajeito o rabo no parapeito exterior da montra e estico a atenção até eles.
De olhos em fogo e a voz meia rouca de saudade ele pegou-lhe na mão.
"Sabes, estamos a chegar ao ponto que eu temia...
"Como assim?
"Só falamos de trabalho.... quando tens tempo para namorar comigo?
"Eláaaaaa"!
Com esta a tipa não contava!
Toma que já levaste!
Pelo pensamento deve-lhe ter passado mil uma coisa e aí... desmanchou-se.
Abriu a torneira!
Já aprendi muito na vida, mas lidar com uma tipa destas a chorar, ná dá!
Virei costas, vim-me embora!
Ela que acorde para vida e ele que não deixe de estar atento! Se é que não querem passar para o horário do almoço ou para o do fim do dia de trabalho!
Também, já tinha o rabo dormente de ali estar!
Pé de Carvão.(Heterónimo de Ruth Collaço)
Ventos Sábios
Ruth Colaço a autora do texto