09 Sep
09Sep

Considerando-se que em todos os tempos o mal é um dos maiores desafios da humanidade, poderia o Reiki ser usado para o mal? Não vamos desnaturar o mal. Existem pessoas más, existem situações evidentemente perversas que poderiam ser evitadas: “a nossa volta existem injustiças claramente remediáveis” (Amartya Sen, A ideia de justiça, prefácio). O termo é plurívoco e fluido.

O que é o mal? Associado dialeticamente ao bom, o mau é uma realidade conectada à liberdade, porque sempre pressupõe uma escolha. Podemos falar em mau como adjetivo, opondo-se ao termo bom; podemos igualmente mencioná-lo como substantivo, pensando e agindo de tal modo a afastar-se de todo o mal.

Os gregos exploraram a ideia do mal, a desmedida, e até o deuses não deixaram de contribuir nesse aprendizado, a partir da narrativa  do mito de Pandora, por exemplo. Seja em Hesíodo (flc.750 ou 650 a.C.), autor de Teogonia e Trabalhos e os Dias,  como uma energia que nos desvia do caminho e nos coloca em desarmonia com a força cósmica, passando por Platão (428 – 348 a. C.) que  o associou à ignorância, ou, Aristóteles ( 384 – 322 a. C.) como deficiência ou falta de virtude,  o mal é um grande mistério.

Podemos pensar o mal como algo que nos faz imaginar uma perda, escassez, morte , dor, solidão, dificuldades, culpa, raiva, vingança – uma história de desafios axiológicos. Em nossa relação com o mal, há um cair, uma frágil condição de se perder no caminho.  No horizonte teológico, liga-nos ao pecado, termo igualmente infinito como o fluir de um rio que desemboca no mar. O que seria pecar na dimensão cósmica? O que seria pecar, hoje? O que seria o mal, hoje? Vivemos um mundo muito louco, da inteligência artificial para além do bem e do mal.

Na versão não teológica, se sobressai como erro. O erro de nossos comportamentos individuais consubstanciados pelas ações, omissões, culpas e remorsos. Mas, o que é o errar? Não seria uma questão de perspectiva? Não sabemos dizer, mas podemos pensar como algo que potencializa a dor nas relações humanas e pode ser confrontado com a ideia de uma forma divina, perfeita, amorosa e acolhedora.

O mal revela a nossa fragilidade e antifragilidade como individualidades sensíveis e complexas, a viver diferentes eus na temporalidade divina,  e, em cujos registros simbólicos, reverbera. E, diante do que se supõe ser o mal,  erramos de novo.  Em Apometria, temos essa percepção, muitas vidas, dores, sentimentos perpetuados pela ilusão de consciências fragilizadas em momentos, em fragmentos de vida, dissociadas de um agregado e em desarmonia com a jornada encarnatória atual. Por isso, trata-se de um resgate amoroso, humilde e anônimo  de almas.

Possivelmente, não haja mal maior do que aquele que decorre do pensar em fazer ao outro o que não suportaríamos receber, porque pensamento é matéria. Então, não são os objetos/situações em si, mas a forma como pensamos, nossas intenções. 

Nossas intenções, aquilo que vibramos ininterruptamente em razão de nossos pensamentos e sentimentos. Aquilo que emitimos para o universo e que o universo nos devolve, sem qualquer julgamento. O universo não julga, simplesmente é.

Citando o estoico Marco Aurélio (121-180 d.C.), “nada é mal se está em conformidade com a natureza” (Meditações, II, 17). Ora, o Reiki que é a energia vital presente na Natureza, nunca nos fará mal. Quem nos afeta e pode  nos causar dor, são os pensamentos, sentimentos e as ações. Nós mesmos e, para isso, basta o simples pensar e desejar.

Diferentes tradições afirmam que produzimos muitos pensamentos por dia. Durante o sono, igualmente. Há estudos que dizem produzirmos em torno de 6.200 pensamentos/dia em conformidade com nosso estado emocional, o local no qual estamos inseridos e os desafios que se afiguram. Qual a qualidade dos pensamentos diários? Quantos pensamentos por ano? E em cinco anos? Será que uma técnica de harmonização, como Reiki, é  o que devemos realmente temer?

O Reiki nos conecta com a energia vital, a força criadora do universo e, portanto, ensina-nos a progressivamente mitigar o incorreto pensar que se acumula por milhares de reencarnações que trazemos na jornada do espírito. A experiência do mal é a experiência de um eu que insiste em desviar-se de seu caminho. Um caminho de secessão com a sua própria essência.

O Reiki é uma técnica, dentre outras, para conexão com o Divino Criador. Sua prática diária colabora para dissipar a densa camada de pensamentos, sentimentos e emoções que criamos ao nosso redor, potencializada, também, por tudo que consumimos nos livros, filmes, poesias, músicas e, redes sociais, produzindo, assim, um campo eletromagnético complexo, denso ou mais sutil a depender das escolhas de cada um. Esse campo atrai as energias semelhantes, podendo fortalecer sentimentos, situações que se repetem e se retroalimentam, por vezes causando mais sofrimento. Quem sente raiva, atrai mais raiva para si. Quem sente  amor (o amor que se dá ao outro), com ele se envolve. 

O fato é que o maior desafio do ser humano é o próprio ser humano.


Clara Brum, a autora deste artigo.


Comentários
* O e-mail não será publicado no site.