Decodificamos anteriormente que o sentido do “amor ao próximo” traz uma conexão, de um lado, com o sentido de respeito e, de outro, com a ideia de nutrição. Então, o amor não é um sentimento individual que está no campo da instabilidade e das preferências subjetivas, mas uma maneira de ser e agir fundada na percepção da alteridade que requer respeito, nutrição e perdão.
O universo, que nos ensina a importância da unidade no diverso, fortalece o sentido do termo “próximo” presente na regra de ouro, porque todos nós somos peças de um imenso colar. Todos nós, embora diferentes, integramos a unidade que está no Divino Criador ou Força Geradora. Se imaginarmos o corpo humano podemos perceber essa relação quando pensamos, por exemplo, em cada célula que habita nosso corpo, são em torno de 10 trilhões. Todas integram um sistema e quando estão em desarmonia trazem desequilíbrio a esse sistema. Cada um de nós pode ser visto como uma pequena célula constituinte do universo. E qual a nossa contribuição para a harmonia do universo?
O terceiro momento do “amor ao próximo”, portanto, é o “amor que perdoa”. O que seria o perdão? Perdoar é um termo que muitas vezes pode estar sendo banalizado na linguagem cotidiana. Será que sabemos o que significa o perdão? É fácil perdoar? Como identificamos essa necessidade na concretude?
Não é raro para o reikiano tratar pessoas com muitos sintomas de desarmonia emocional, tais como ansiedade, distúrbios do sono, angústia, tristeza, raiva, desânimo, dentre outros aspectos. E não há milagres, porque tratar o corpo físico, sem considerar o espiritual é o mesmo que tentar tampar o sol com uma peneira.
A compreensão de que somos espíritos eternos e trazemos memórias de milhares de vivências é importante, por isso a necessidade do perdão. Se observarmos o significado da palavra perdão, identificaremos ideias de liberar-se da culpa, desvincular-se de uma ofensa, de uma dívida, de uma violência, etc.
Liberar-se, desvincular-se! Não é o outro que me liberta, que me cura, mas sou eu quem deve realizar o movimento para ser livre de emoções e sentimentos que me adoecem diuturnamente e que estou alimentando inadvertidamente. Por quê? Porque sentimentos e emoções são formas subjetivas de perceber o mundo. Formas que são construídas por nós mesmos ao longo de nossas existências.
Trata-se de um processo interior que não está adstrito ao mental, mas envolve particularmente o sentimento, as emoções. Não perdoar significa manter vivo o desconforto, a dor, a violência, o desamor em si mesmo. Significa nutrir situações de vida para que continuem produzindo dor em nossos corações. Adoecer e vitimizar-se pode ser viciante, mas é deformador do espírito. Vale a pena perguntar-se: por que ainda sinto isso? Por que carrego essa pessoa comigo? Como posso me liberar disso? A resposta virá como uma intuição quando você estiver relaxado(a).
O perdão nada tem a ver com a não responsabilização de quem praticou o mal. O perdão é a compreensão de que está tudo certo, no universo. É a compreensão de que as situações pelas quais passamos fazem parte de um macroprocesso de aprendizado e aperfeiçoamento do espírito em diferentes vivências. E mais. A de que tudo passa e o espírito continua ampliando sua consciência.
O grande desafio do reikiano e dos interessados em receber a terapia Reiki é compreender que a energia universal, a energia do Reiki é abundante e está disponível. O maior desafio é mantê-la viva em nosso ser na vida cotidiana. Para tanto, talvez seja necessário praticar o “amor ao próximo” que se desvela em amor que respeita, amor que nutre e amor que perdoa. Desse modo e não de outro faremos a mudança interior que o Evangelho do Cristo, o Reiki, inúmeras filosofias orientais, algumas teorias éticas ocidentais e muitas religiões sempre fortaleceram. Por isso, somente por hoje, eu sinto muito, me perdoa, sou grato, eu te amo pelas memórias que compartilho contigo e me fazem uma pessoa melhor a cada dia.
MCKENZIE, Eleonor. A bíblia do Reiki. O guia definitivo para arte do Reiki. São Paulo: Pensamento, 2010.
OKAWA, Ryuho. Ame, nutre e perdoe. Um guia capaz de iluminar sua vida. São Paulo: IRH Press do Brasil, 1997.
SUNIM, Haemin. As coisas que você só vê quando desacelera. Rio de Janeiro: Sextante, 2017.
Clara Brum, a autora deste artigo