"Sabes, por vezes ficamos a saber de certos factos da vida de quem está de "partida" dela que nos partem o coração... passados, adolescencias, tribulações. .. chegamos até a ter acesso a verdades que nos são transmitidos "mentalmente" ou "emocionalmente" quando se está a sós com quem se prepara para fazer a sua ultima viagem, ao ponto de ver as lagrimas caírem copiosamente pelo rosto desse alguem.É que nós nada sabemos sobre as pessoas Só sabemos o que nos contam.
A versão dos outros e as que tantas vezes nos convém. Em contrapartida... momentos desses fazem-nos ver outras caracteristicas de pessoas que pensamos conhecer. E a tristeza de uma clareza crua é inevitável. Somos todos humanos, todos com os seu segredos, defeitos e virtudes - as visíveis. Porque destas todas também há as invisíveis, as que cada um esconde e só depois da partida final se revelam.
O desafio é amar e aceitar todos, aprendendo a resguardarmo-nos do que nos fere. Das coisas cruas que descobrimos ao despir cada um perante os nossos olhos e na vulnerabilidade do ser.
Enquanto os que partem despem o ego... os que ficam vestem-no.
E o nosso ego vai engrossando também. Sendo que é muito mais facil parecer-se grande enquanto o outro se definha.
Tento preservar-me enquanto me mantenho meramente num estado de observação e contemplação. Peço então que a sabedoria me valha e a humildade me assista porque a vida é uma constante inconstância de factos, desverdades e aprendizagens, quando assim o queremos, e a única escolha lúcida é tão fácil ou difícil quanto o estado de saude mental, espiritual e fisica. Faz lembrar um banco de trés pernas. Se falta uma... caimos, e a queda ou nos quebra ou nos fortalece.
E pergunto-me, não será melhor "sentar-me no chão" para não caír?
...Por isso observo, cotemplo, aprendo e me cuido."
- Assim foi a minha resposta quando Ela me perguntou em que tanto pensava.
Ruth Collaço
Em: Conversas com a Voz