04 Feb
04Feb

Passei a semana a ouvir vozes, ou melhor, uma voz, a minha. Hoje e para fechar a minha semana de forma coerente, decidi ouvi-la de novo. Desta vez falou pouco, apena disse 

“Nem de pedra nem descartável” …  

Um pouco assoberbada com o seu tom, desta vez não foi acusatório. Convenhamos que quem leva a semana a levar com o dedo indicador apontado à cara, tem mesmo que estranhar quando repente o dedo deixa de apontar e se alinha com o resto da mão num gesto condescendente e amigo. 

Interroguei-me sobre o que tinha ouvido. Perguntei-lhe o que queria mesmo dizer com as suas palavras. 

Mais uma vez, com todo o seu autocuidado e amor respondeu-me.   

E finalmente ao fim de uma semana de olhar para dentro, cortar cordões umbilicais, perdoar e afirmar percebo que não tenho que ser feita de pedra nem permitir que seja descartável. Não mais serei mártir, mas também ponho a espada de lado, não tenho eu que me defender. Até porque quem se defende implica (quer queira quer não) que se sente atacado ou pelo menos sente a ameaça de ser atacado. 

E sabem que mais, pedir ajuda, cair, oferecer ajuda, estar presente no presente, cuidar de mim embora o tenha feito para mim, por mim e comigo, passou toda esta atitude e escolha a ser tanto defesa como ataque. 

Solto uma gargalhada e percebo….  

Que esta minha “escolha” (por vezes dá vontade de me autoflagelar….

 Parece coisa de masoquista!) acabou por ser incómoda tanto a quem gosta de atacar como a quem pensa que eu vou “atacar” ….   

Que estranho ser humano que sou!   

Se tento andar na luz a escuridão persegue, se ando na escuridão a luz chama-me.    

Se tento ser durona, logo me descartam.   Ah… espera! Percebi, nem de pedra nem descartável. Tão simples, basta amar-me/te/nos/vos… conhecer o limite entre a luz e as trevas… 

Ainda esta semana uma pessoa que amo me disse, na sua voz serena e grave,

 “sabes… candeia que vai á frente ilumina para trás e para a frente.” 

Se fosse tarot, teria saído o eremita. Que eu saiba trazer a Luz dentro de mim, que eu conheça a diferença entre a luz e as trevas, que nunca me veja como pedra ou descartável. E que eu saiba sempre como sou: 

NEM DE PEDRA NEM DESCARTÁVEL. 

Ventos Sábios


Pedras geridas   

Logística é ter que gerir o ser que tem 

É ter que juntar as pontas sem nó  

Amarro as pontas do pouco que tenho 

E sinto o peso de tudo o que sou 

Pequena me sinto na estrada que sigo  

Apanho as pedrinhas pelo caminho 

E nelas escrevo as palavras que sou 

Deixando o meu rasto, talvez alguém sonhe 

As pedras escritas que deixo para trás  

E assim vou largando, abdico do sonho 

Prefiro dormir de olhos abertos 

Que ter que apagar a luz da verdade   

Uta (Heterónimo de Ruth Collaço)®

Ruth Collaço, a autora do texto e do poema.

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