Passei a semana a ouvir vozes, ou melhor, uma voz, a minha. Hoje e para fechar a minha semana de forma coerente, decidi ouvi-la de novo. Desta vez falou pouco, apena disse
“Nem de pedra nem descartável” …
Um pouco assoberbada com o seu tom, desta vez não foi acusatório. Convenhamos que quem leva a semana a levar com o dedo indicador apontado à cara, tem mesmo que estranhar quando repente o dedo deixa de apontar e se alinha com o resto da mão num gesto condescendente e amigo.
Interroguei-me sobre o que tinha ouvido. Perguntei-lhe o que queria mesmo dizer com as suas palavras.
Mais uma vez, com todo o seu autocuidado e amor respondeu-me.
E finalmente ao fim de uma semana de olhar para dentro, cortar cordões umbilicais, perdoar e afirmar percebo que não tenho que ser feita de pedra nem permitir que seja descartável. Não mais serei mártir, mas também ponho a espada de lado, não tenho eu que me defender. Até porque quem se defende implica (quer queira quer não) que se sente atacado ou pelo menos sente a ameaça de ser atacado.
E sabem que mais, pedir ajuda, cair, oferecer ajuda, estar presente no presente, cuidar de mim embora o tenha feito para mim, por mim e comigo, passou toda esta atitude e escolha a ser tanto defesa como ataque.
Solto uma gargalhada e percebo….
Que esta minha “escolha” (por vezes dá vontade de me autoflagelar….
Parece coisa de masoquista!) acabou por ser incómoda tanto a quem gosta de atacar como a quem pensa que eu vou “atacar” ….
Que estranho ser humano que sou!
Se tento andar na luz a escuridão persegue, se ando na escuridão a luz chama-me.
Se tento ser durona, logo me descartam. Ah… espera! Percebi, nem de pedra nem descartável. Tão simples, basta amar-me/te/nos/vos… conhecer o limite entre a luz e as trevas…
Ainda esta semana uma pessoa que amo me disse, na sua voz serena e grave,
“sabes… candeia que vai á frente ilumina para trás e para a frente.”
Se fosse tarot, teria saído o eremita. Que eu saiba trazer a Luz dentro de mim, que eu conheça a diferença entre a luz e as trevas, que nunca me veja como pedra ou descartável. E que eu saiba sempre como sou:
NEM DE PEDRA NEM DESCARTÁVEL.
Ventos Sábios
Pedras geridas
Logística é ter que gerir o ser que tem
É ter que juntar as pontas sem nó
Amarro as pontas do pouco que tenho
E sinto o peso de tudo o que sou
Pequena me sinto na estrada que sigo
Apanho as pedrinhas pelo caminho
E nelas escrevo as palavras que sou
Deixando o meu rasto, talvez alguém sonhe
As pedras escritas que deixo para trás
E assim vou largando, abdico do sonho
Prefiro dormir de olhos abertos
Que ter que apagar a luz da verdade
Uta (Heterónimo de Ruth Collaço)®
Ruth Collaço, a autora do texto e do poema.