Aqui na serra, a Vida Nao Mente.
Ela bate-nos à porta bem cedinho com o bater dos cascos de cavalos na calçada..
Não há vozes nem carros e o chilrear dos passarinhos substituem as buzinas da cidade.
Abro a janela e a serra cumprimenta-me no esplendor majestosa do seu verde(... mas também tem rochas duras, frias como a vida). Bate-me o vento gelado no rosto, arrepio-me e encolho-me.
Preparo-me para o dia, num profundo inspirar fecho os olhos e acolho na pele os raios de sol.
Na serra a vida não mente, percebo nas paredes de pedra que só precisamos do que temos, o resto é apenas um amontoado de vaidade. Questiono a cidade, e rapidamente sinto o viciante ela é.
Mas a serra não mente, porque aqui a vida é simples, calma e exigente.
Há lenhas para apanhar e quilómetros para andar, há verde (e tinto) e cheiro a lareira.
Enchidos caseiros , palavras soltas lá fora, e o sino da igreja, sim... nunca se perde a hora porque o sino não mente.
Dão-se os bons dias a cada rosto que se encontra, seus olhares são profundos e buscam em mim destinos que eu já deixei.
E aqui a vida não mente, porque a serra é vida e sempre presente faz-me sentir pequena e humilde perante a cordilheira que em rodeia.
Há pastos e rebanhos de ovelhas nos campos.
Giestas e urzes pintam encostas numa tela abstrata que ao longe se expõem como os sonhos que trago.
Já não estão longe como os sons da cidade.
A vida não mente aqui na serra. Os caminhos levam-me e eu sigo, e é esta a verdade que a serra me grita.
Caminhos abertos, na estrada batida.
(Dedicado ao Gerês)
Ruth Colaço, a autora do texto