Insuportável o nó que lhe tolhia a carne e amarrava o coração. Aquele aperto que parecia lançar labaredas dentro do peito, inflamava todo o seu ser e consumia qualquer tentativa de raciocínio.
A carne não entende o que alma procura e encontra, a carne sente apenas a dor e a alma o amor. Carne não sabe falar, carne geme, grita, chora, mas a alma transmite, sussurra, viaja.
E foi numa viagem assim que se encontraram. Poderiam até dizer que na estrada da vida se tinham encontrado e esbarrado um contra o outro, só que inegavelmente há desígnios que o coração jamais entenderá e a mente jamais alcançará. Tal é a limitação do ser humano para entender o sagrado, o telecomando do universo, esse GPS que nos obriga a dar as voltas todas, todinhas. Até chegarmos onde temos que chegar. Temos que virar na curva (pessoa) certa, seguir em frente na faixa(decisão) (pré)escolhida.
Só assim se chega onde se é esperado.
Apenas sabia que aquele abraço à chegada teria sido tudo o que era necessário para se desfazer o nó.
A dor.
A saudade.
Quem sabe até apagar o que não queriam lembrar.
Sentaram-se no mesmo lugar, à mesma hora, com mesmo sorriso e mesmo olhar. O olhar que se reconhece após séculos e séculos de olhar.
É comum ouvir-se dizer que as únicas coisas que não mudam, são os olhos.
Pode a "cortina de luz" ser corrida várias a muitas vezes a cada retorno. Podem-se perder memórias, imagens e tanta outra coisa, mas o olhar, esse não se perde. É como se fosse uma dádiva eterna que nos é dada, uma característica física, só para o caso de nos perdermos (uns dos outros). No caso os olhos, há sempre uma réstia, um resíduo de memória de outros tempo que nos dá aquela certeza e que nos faz dizer depois de sentir:
- Encontrei-te. E agora?
- Agora não sei. Eu não sei no que isto vai dar, só sei que quero seguir.
Foi então que se desfizeram dois "nós" e se fez um.
(Tirado de um conto)
Ruth Collaço / Ventos Sábios ®
Ruth Collaço, a autora deste artigo.