21 Dec
21Dec

Se o silêncio falasse e eu o ouvisse, talvez descobrisse que as minhas respostas (as que só eu busco) sempre estiveram ali, a pairar como poeira iluminada num feixe de luz 

— Visíveis apenas quando deixo de me mexer.  

Talvez me revelasse que a ligação que procuro não nasce do brilho das palavras, mas do espaço entre elas, onde tudo é ainda possível e nada precisa de ser dito. 

E vejo o silêncio aproximar-se de mim como o meu gato quando pressente o tumulto dos meus pensamentos: 

Um passo leve, quase suspenso, uma presença que não exige nada.  

E nesse gesto lento, quase sagrado, percebo que a vida não pede certezas, apenas o corpo inteiro a escutar.  Que a profundidade não é um mergulho, mas um repouso  

— Um aceitar da penumbra como quem aceita a respiração. 

Ah! se o silêncio falasse..., talvez murmurasse aquilo que o meu peito já sabe: 

Que a verdadeira ligação é um repouso contínuo, um assentamento suave no que É.

Como o meu gato, que se deita sobre o meu colo quente, confiando que o mundo o sustém; e eu, ao observá-lo, aprendo devagar a pousar também — a deixar que a minha inquietação encontre, por fim, um lugar onde possa adormecer.

Ruth Collaço, a autora do texto

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