Se o silêncio falasse e eu o ouvisse, talvez descobrisse que as minhas respostas (as que só eu busco) sempre estiveram ali, a pairar como poeira iluminada num feixe de luz
— Visíveis apenas quando deixo de me mexer.
Talvez me revelasse que a ligação que procuro não nasce do brilho das palavras, mas do espaço entre elas, onde tudo é ainda possível e nada precisa de ser dito.
E vejo o silêncio aproximar-se de mim como o meu gato quando pressente o tumulto dos meus pensamentos:
Um passo leve, quase suspenso, uma presença que não exige nada.
E nesse gesto lento, quase sagrado, percebo que a vida não pede certezas, apenas o corpo inteiro a escutar. Que a profundidade não é um mergulho, mas um repouso
— Um aceitar da penumbra como quem aceita a respiração.
Ah! se o silêncio falasse..., talvez murmurasse aquilo que o meu peito já sabe:
Que a verdadeira ligação é um repouso contínuo, um assentamento suave no que É.
Como o meu gato, que se deita sobre o meu colo quente, confiando que o mundo o sustém; e eu, ao observá-lo, aprendo devagar a pousar também — a deixar que a minha inquietação encontre, por fim, um lugar onde possa adormecer.

Ruth Collaço, a autora do texto