12 Nov
12Nov

Dispo-me exausta, ao fim de cada dia 

cansada de usar vestes que não são minhas

 e ouso desnuda dançar na sala da minha canção 

sacudo os ombros e deixo que deles me caiam 

os pesos e fardos que nunca são meus 

nesta sala vazia, tão cheia de tudo, de mim 

eu rodo e solto em pingos suor, lágrimas densas 

amarras, apertos, laços e nós feitos por mim 

por ter permitido que tu me vestisses 

e meu pranto eu cantasse, com a tua melodia. 

E danço na sala, vazia...? Jamais 

eu encho-a de garra e solto as amarras que já não me prendem 

e abro as janelas gritando a quem passa perdido no tempo 

que entre também e dance comigo a partilha da vida 

que aceite o que tenho, e tenho para dar 

pois nada é meu, se não souber partilhar 

se der o que é teu , jamais será dado, mas é sim roubado 

e enche o ego com atos vadios, vestindo em ti um manto dourado 

que esconde a miséria que vai no teu peito e corre nas veias 

sangrando a bondade, sugando a vaidade. 

Por isso me dispo e danço. E livre me sinto! 

aceito o frio que queima a pele em dias sozinhos 

de ventos bravios, que batem nas ondas de um mar escuro. 

Por isso me dispo e desnuda me solto expondo a pele 

ao tórrido sol e do corpo exsudo as mágoas guardadas 

em que tudo era dito, tudo era surdo e tudo era aceite 

almofadas violentas em que sempre me deitas. 

Sim, despida, nua, desnuda. 

Eu nasço e renasço 

eu vivo 

a minha verdade, aquela que é minha 

e que a sós conquistei 

e se outra verdade houver por aí 

que seja vivida por quem a detém 

conquiste também a vida que tem!


Ventos Sábios - Ruth Collaço®

Ruth Collaço, a autora deste texto.


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