Dispo-me exausta, ao fim de cada dia
cansada de usar vestes que não são minhas
e ouso desnuda dançar na sala da minha canção
sacudo os ombros e deixo que deles me caiam
os pesos e fardos que nunca são meus
nesta sala vazia, tão cheia de tudo, de mim
eu rodo e solto em pingos suor, lágrimas densas
amarras, apertos, laços e nós feitos por mim
por ter permitido que tu me vestisses
e meu pranto eu cantasse, com a tua melodia.
E danço na sala, vazia...? Jamais
eu encho-a de garra e solto as amarras que já não me prendem
e abro as janelas gritando a quem passa perdido no tempo
que entre também e dance comigo a partilha da vida
que aceite o que tenho, e tenho para dar
pois nada é meu, se não souber partilhar
se der o que é teu , jamais será dado, mas é sim roubado
e enche o ego com atos vadios, vestindo em ti um manto dourado
que esconde a miséria que vai no teu peito e corre nas veias
sangrando a bondade, sugando a vaidade.
Por isso me dispo e danço. E livre me sinto!
aceito o frio que queima a pele em dias sozinhos
de ventos bravios, que batem nas ondas de um mar escuro.
Por isso me dispo e desnuda me solto expondo a pele
ao tórrido sol e do corpo exsudo as mágoas guardadas
em que tudo era dito, tudo era surdo e tudo era aceite
almofadas violentas em que sempre me deitas.
Sim, despida, nua, desnuda.
Eu nasço e renasço
eu vivo
a minha verdade, aquela que é minha
e que a sós conquistei
e se outra verdade houver por aí
que seja vivida por quem a detém
conquiste também a vida que tem!
Ruth Collaço, a autora deste texto.